segunda-feira, 22 de agosto de 2011

CVI/Campinas – 14 Anos – Parte 1


No último sábado, dia 20, foi realizada a Assembléia Geral Ordinária do Centro de Vida Independente de Campinas (CVI/Campinas), ONG fundada e gerida pelas próprias pessoas com deficiência. Depois de 14 anos, deixo de exercer funções na Diretoria do CVI/Campinas, passando apenas a compor o seu Conselho Consultivo. A ocasião motiva este texto.

Quando ainda fazia reabilitação na AACD em São Paulo, em 1997, assisti a uma palestra da então presidente do CVI/Santos, Flávia Cintra. Ao final conversamos e ela me estimulou a criar um CVI em Campinas. Mesmo tendo menos de dois anos da lesão medular – numa fase de instabilidade emocional – fiquei animado e decidi escrever uma carta “convocatória” no jornal Folha de São Paulo, nos seguintes termos:

Tenho 21 anos e sou estudante de economia na Universidade Estadual de Campinas. Em 1995 sofri grave acidente. Desde então me encontro na condição de tetraplégico. Atualmente, estudo, trabalho, saio, viajo, namoro, enfim, exerço minha cidadania por completo. Mas, infelizmente, meu caso é exceção, sou um 'privilegiado'. A maioria dos deficientes está em casa, sem qualquer tipo de ocupação. É para lutarmos e nos indignarmos contra essa situação que estamos trabalhando aqui em Campinas na criação de um CVI (Centro de Vida Independente). Essa é uma organização não-governamental, criada nos Estados Unidos na década de 70. No Brasil, o CVI atua em cerca de dez cidades. No dia 4 de outubro vai se realizar uma palestra em Campinas, o primeiro passo para criação do CVI Campinas. Os interessados por favor me procurem pelo telefone (019) 241-8907 ou e-mail iron@correionet.com.br.''

A carta foi publicada na seção painel do leitor, página 3, em 26 de Setembro de 1997. Parênteses: o telefone é das casa dos meus pais, onde eu morava, e logo ganharia mais um dígito; o e-mail foi o meu primeiro endereço de correio eletrônico, e reflete o gosto pela banda de rock Iron Maiden, presente até hoje, porém mais forte aos 21 anos. Fecha parênteses.

Alertada por uma prima que mora em São Paulo, leitora da Folha, a primeira pessoa a responder meu chamado foi a minha amiga e companheira Katinha (que, assim como eu, deixou a Diretoria e passou ao Conselho Consultivo do CVI/Campinas). Marcamos uma conversa na casa dos meus pais. A sintonia foi imediata e decidimos dar prosseguimento ao processo de criação da ONG, que seria iniciado com a reunião em 04 de Outubro de 1997.

O encontro ocorreu numa Clínica de Reabilitação onde minha mãe (psicóloga) trabalhava, fazendo dela, desde o início, uma permanente colaboradora nas atividades do CVI/Campinas. Acometida por uma infecção urinária, Flávia Cintra não pôde vir de Santos para a palestra que faria sobre a filosofia de vida independente, que dá base ao funcionamento dos CVIs. Meio perdidos, mas querendo levar o movimento adiante, fizemos a reunião com um grupo de pessoas com deficiência que havia sido convidado por meio de contatos anteriores em clínicas e centros de fisioterapia. Deste grupo, já fazia parte nosso amigo Fábio, que continuou na ONG nos 14 anos seguintes e seguirá na sua Diretoria pelos próximos dois anos, pelo menos.

Para encurtar a história, seguiram-se outras reuniões (na garagem da casa dos meus pais) em que tratamos dos nossos objetivos iniciais e da formalização do CVI-Campinas, que ocorreu antes do final de 1997. Em Dezembro daquele ano, a recém empossada Diretoria do CVI-Campinas (eu, Katinha e Fábio) fomos ao Rio de Janeiro para participar de um Seminário de Capacitação de Lideranças em Vida Independente, promovido pelo CVI-Rio. Lá conhecemos pessoas que nos inspiram até hoje, como, dentre outras, Lilia e Geraldo. Aprendemos muito sobre vida independente e nos divertimos bastante! Estava dada a largada para trajetória de luta do CVI-Campinas.  

No próximo texto, procurarei fazer um pequeno balanço desta experiência no CVI/Campinas, considerando também os desafios que se colocam para o futuro.

10 comentários:

  1. Caraio, que história! Não sabia que o CVI-Campinas tinha começado na garagem da sua casa! :¬)

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  2. Pois é Daniel, as garagens são bem úteis!
    Abração!

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  3. Que bom, Vi, você fazer este resgate histórico. Fico feliz e orgulhosa de tudo que já fizemos juntos. Está na hora de inventarmos alguma empreitada nova, não é? Beijão!

    Katia Fonseca
    Jornalista
    Ativista em direitos humanos
    Visite meu blog Tô dentro! - http://www.rac.com.br/blog/32/to-dentro

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  4. Legal Katinha, também fico orgulhoso da nossa parceria! Quanto ao futuro, quem sabe né?!
    Bjs, Vi.

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  5. De: Vinicius Garcia
    Data: 23 de agosto de 2011 16:41
    Assunto: Re: novo texto
    Para: ml-garcia


    ajudou bastante mãe!!
    Bjs, Vi.

    Em 23 de agosto de 2011 16:39, ml-garcia escreveu:

    Valeu vini! Foi bom participar desta "história", eu mais aprendi do que ajudei. Bjs

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  6. Que bom saber que a garagem da casa dos seus pais foi palco de coisas tão importantes, e não apenas dos milhões de episódios irrelatáveis dos carnavais dos anos 90.

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  7. Verdade Rolha! Se bem que os "episódios irrelatáveis", na verdade, merecem também um texto...quem sabe um dia...

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  8. ---------- Mensagem encaminhada ----------
    De: Vinicius Garcia
    Data: 26 de agosto de 2011 15:48
    Assunto: Fwd: novo texto
    Para: Albino


    Mesmo sendo clichê, vale a intenção e eu agradeço! Torcer para o Corinthians é virtude para uns e defeito para outros...fico com os primeiros!

    Valeu Albinão, grande abraço também!

    ---------- Mensagem encaminhada ----------
    De: Ricardo Favalli
    Data: 25 de agosto de 2011 20:11
    Assunto: RE: novo texto
    Para: vggarcia30@gmail.com



    Vini só não te dou parabéns pois seria quase um clichê e ainda por cima torce pro Corinthians....
    Muita felicidade pra você e a família!!!!
    ALB

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  9. |m|/ iron rulz
    achei q tu era mais velho vinicius, mas tens quase minha idade

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  10. Isso aí Afonsinho, para gostar de Iron não tem idade!

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