segunda-feira, 30 de maio de 2011

Barcelona!

Motivos não faltam para torcer e se emocionar com Barcelona, tanto a cidade como o time que a representa. Representa, na verdade, a Catalúnia, uma região que se enxerga de forma independente e autônoma em relação ao reino Espanhol. Durante os anos da ditadura militar do general Franco, Barcelona foi o berço da resistência ao regime autoritário e fascista. Politicamente, gostar de Barcelona para aqueles que se consideram de esquerda, como eu, é inevitável.
Tenho também razões afetivas para gostar dessa cidade e do seu time. Minha madrinha, tia Iza, irmã do meu pai, morou e trabalhou em Barcelona no início da década de 90. Durante o tempo em que ela esteve lá, junto com meu primo Thomáz e a querida vó Anamélia, eu e o meu irmão, Bruno, trocávamos cartas com ela. Tínhamos entre 13 e 15 anos, e ficávamos admirados com os relatos sobre a beleza da cidade Catalã, sua riqueza cultural e a “personalidade” do seu povo. Como adorávamos futebol, torcer para o time foi automático.
Ainda nos anos 90, era um prazer acompanhar o sucesso de jogadores brasileiros no Barça: Romário, Ronaldo Fenômeno e Rivaldo, dentre outros. Particularmente a temporada de 96-97 do Ronaldo, em que ele “só não fez chover”. A relação “mágica” de jogadores brasileiros com o Barcelona continuou no século atual, sendo Ronaldinho Gaúcho seu maior expoente. O “dentuço” jogou demais entre 2004 e 2006, dando a impressão de que o Brasil ganharia tranquilamente a Copa na Alemanha, mas o seu brilho terminou antes do mundial.
Um argentino substituiria o brasileiro no comando do esquadrão catalão: Lionel Messi. Sem dúvida, o melhor jogador de futebol do mundo neste momento. Messi entrou num time com jogadores extremamente técnicos e habilidosos, como Xavi e Iniesta. Formou-se um meio-campo que domina o jogo como há muito não se via (quase 70% de posse de bola, em média). O Barcelona, assim, quase sempre tem a bola em seu domínio, joga com rapidez, técnica e paciência em busca da melhor opção. A vitória contra o Manchester United na Liga dos Campeões, terceira conquista em cinco anos, é o símbolo perfeito desta “escola de futebol”. 
Por fim, alguns comentários que compartilhei com meu pai sobre esta conquista do Barcelona (assistimos ao jogo juntos). Primeiro, a incrível constatação de que 8 dos 11 titulares foram formados nas categorias de base do time (em oposição ao modelo do Real Madrid de "comprar craques"). Outra coisa interessante e simbólica: o capitão Puyol, que entrou no fim do jogo para levantar a taça, cedeu a honraria ao colega Abdal, que se tratou um tumor no início do ano. Lindo gesto, de um time onde as vaidades individuais parecem estar em segundo plano.
A última constatação: até 1991, vinte anos atrás, o Barça era um time de prestígio e conquistas locais ou regionais. A primeira taça na Liga dos Campeões da Europa veio em 1992, e depois as três recentemente, na década atual. Ou seja, há esperança para o Corinthians! Mas até lá, viva o Barça!

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Ciclos de vida

Amanhã, sábado, o Centro de Vida Independente de Campinas (CVI-Campinas), uma ONG fundada e gerida pelas próprias pessoas com deficiência, fará a distribuição gratuita de folders e cartilhas que foram produzidas pela ONG nos últimos anos. A atividade será no Centro de Convivência em Campinas, das 10h00 às 13h00. Mais informações sobre esse evento e também sobre a história, projetos e filosofia do CVI-Campinas podem ser obtidas no site http://www.cvicampinas.org.br/.
Depois de assistir a uma palestra da jornalista e publicitária Flávia Cintra (tetraplégica, que inspirou uma personagem de uma novela ano passado), decidi seguir o conselho dela e fundar o CVI em Campinas. Na ocasião, Flávia era presidente do CVI-Santos, e eu tinha menos de três anos de lesão medular, fazendo ainda reabilitação na ACCD em São Paulo, em 1997. Em outubro daquele ano, mandei uma carta ao jornal Folha de São Paulo manifestando essa intenção, e a primeira pessoa que me respondeu foi minha amiga Katia Fonseca (http://www.rac.com.br/blog/32/to-dentro), comigo até hoje na diretoria do CVI (na primeira reunião já esteve presente Fábio Alves, também no CVI desde então, com quem dividi muitas coisas sobre as fases iniciais da tetraplegia)
Em Agosto próximo, depois de 14 anos seguidos, vou deixar a diretoria do CVI-Campinas. Sinto que chegou a hora de “fechar um ciclo de vida”. Como já disse alguém, na nossa passagem aqui na Terra vivenciamos variados e diferentes fases ou ciclos, seja no campo afetivo ou familiar, seja na esfera de formação escolar ou profissional. Destes últimos é que vou falar hoje.
Aos 35 anos, vive três grandes ciclos de vida “profissional ou de formação”: dos 7 aos 17 anos, na Escola Comunitária de Campinas (ECC), dos 17 aos 34, no Institudo de Economia da Unicamp, e dos 21 anos até os dias atuais, no próprio CVI-Campinas.
Me lembro de entrar de mãos dadas com minha mãe, com medo e inseguro, vindo de Mogi Mirim, no enorme pátio da ECC em 1983 para cursar a primeira série. Lá fiquei até terminar o terceiro colegial, em 1993. Dessa escola, além da boa formação (especialmente para escrever), levei amigos para a vida toda, mesmo sem vê-los com freqüência. No ano seguinte, 1994, ingressei no curso de Economia da Unicamp. Do dia do “trote”, em que fiquei com a cara pintada de tinta, pedindo dinheiro em semáforo para tomar cerveja à noite (e adorei), até 03 de dezembro de 2010, quando defendia a tese de doutorado, foram nada menos do que 17 anos. Da Economia da Unicamp também levo bons e queridos amigos, além de uma formação crítica que melhor permite entender o Brasil, fundamentada em elementos históricos, sociais e políticos, fugindo da "neutralidade" da análise econômica baseada apenas em indicadores e parâmetros econométricos.
Ao deixar a diretoria do CVI-Campinas em Agosto, por opção própria, terão sido 14 anos de envolvimento com este tema, convivendo com pessoas que me ensinaram muito e com quem pude compartilhar uma infinidade de questões. Na primeira atividade do CVI-Campinas, eu, a Katia e o Fábio fomos a um seminário sobre vida independente, promovido pelo CVI-Rio de Janeiro, em Dezembro de 1997. Lá aprendemos que, para além de uma organização que presta serviços às pessoas com deficiência, o CVI significa uma filosofia de vida, uma forma libertadora e emancipatória de pensar a própria deficiência. Assim, vou estar sempre neste movimento, mesmo sem um cargo formal.
Em síntese, quero dizer o seguinte: o importante em fechar ciclos de vida é, antes de mais nada, termos tido a oportunidade de iniciá-los. Ao vivenciá-los de forma intensa e procurando fazer o melhor, boas coisas sempre ficam e, no fundo, incorporamos para sempre e de forma positiva aquilo que foi vivido, nos permitindo seguir em frente. Hoje, a partir das condições físicas e emocionais que se definiram na minha, guardadas as proporções, “segunda lesão medular” em 2009, estou em busca de novos ares, novos ciclos de vida.

quarta-feira, 25 de maio de 2011

A cura

A lesão medular – ou trauma raquimedular (TRM) – é um dos grandes desafios que resta para a medicina. Suas causas mais comuns são acidentes no trânsito (particularmente com motos) e aqueles provocados por arma de fogo (embora o clube dos mergulhadores frustrados, como eu, não seja pequeno). O TRM é mais freqüente em homens do que em mulheres, predominando numa faixa etária jovem, de 18 a 25 anos.
De maneira geral, a lesão na medula é irreversível, sendo mais incapacitante do ponto de vista físico e sensitivo quanto mais alta for. Ou seja, traumas no pescoço (cervical) causam danos maiores, atingindo também braços e mãos, o que não ocorre na paraplegia (traumas na coluna torácica ou lombar). Além da perda motora e de sensibilidade, a TRM traz outros problemas como o descontrole das funções biológicas (o que, como já discuti aqui, me parece a pior parte desta coisa toda – http://vggarcia30.blogspot.com/2011/04/pior-parte.html).
Nos últimos anos, muito se tem pesquisado e estudado sobre as possibilidades de “cura” da lesão medular. As maiores esperanças estão nas chamadas células-tronco, mas existem avanços também através do uso de novas tecnologias (como a eletro-estimulação). De uma forma ou de outra, creio que é importante fazer algumas considerações sobre este tema, pois um mau entendimento sobre ele pode gerar frustrações na pessoa com uma deficiência física, seus familiares e amigos.
A “cura” entendida como a reversão completa do quadro provocado por uma lesão medular é praticamente impossível, especialmente para aqueles que tiveram o TRM já há algum tempo. As seqüelas que tal situação provoca não podem ser simplesmente corrigidas automaticamente, seja por uma intervenção cirúrgica ou pelo uso de tecnologia. A medida em que passa o tempo, as “marcas” da lesão medular pesam mais sobre um corpo que, obviamente, assim como para todos, envelhece.
Numa perspectiva médico-clínica, a melhora pode ocorrer com ganhos físicos, sensitivos e fisiológicos gradativos, o que já é muita coisa. Por mínimo que seja, o incremento de qualquer movimento para o tetraplégico lhe será bastante útil. Se, por exemplo, novas tecnologias permitirem maior controle das funções biológicas, haverá sensível melhora na qualidade de vida. Até que isso ocorra, é preciso tentar se manter saudável e apto para melhor absolver os avanços da medicina.
Já do ponto de vista, digamos, social, a “cura” significa viver dignamente mesmo com as limitações da lesão medular (ou qualquer outra deficiência). Em outras palavras, a deficiência não é sinônimo de doença, isto é, aquele que possui uma limitação física, sensorial ou cognitiva pode viver muito bem sem ter que ficar constantemente tomando remédios ou “se tratando”.
O desafio é grande, não é fácil. Eu, por exemplo, já me sentia totalmente curado, socialmente falando. Foi quando novas seqüelas físicas se manifestaram nos últimos dois anos, e me vi novamente num processo de reabilitação por melhoras clínicas. Além de ser complicada para a medicina por não ser totalmente reversível, a lesão medular traz grande complexidade para definição de diagnósticos. Com inquietante preocupação, cada vez mais acho que os médicos, mesmo os especialista, não sabem ao certo o que me provoca dores, mal-estar e desconfortos.
O negócio é seguir vivendo e respirando, dia após dia, ocupando a cabeça e torcendo para que a “cura” seja possível, se não a física, aquela que permite sentir-se bem e saudável mesmo com uma lesão medular.

sexta-feira, 20 de maio de 2011

Beber

Estou meio sem inspiração para escrever hoje. Meus três temas não me estimulam muito a refletir: a) o noticiário político está concentrado no Pallocci, e o econômico na prisão do diretor-gerente do FMI; b) estou meio deprimido com o fim dos principais campeonatos europeus, e o Brasileiro terá apenas sua primeira de trinta e oito rodadas; c) o movimento das pessoas com deficiência me parece cada vez mais dividido e enfraquecido por disputas político-partidárias. Dado esse cenário, e como hoje é sexta-feira, vou divagar sobre o ato de beber (não água ou suco, álcool mesmo).
Em primeiro lugar, e apenas para ser politicamente correto, a leitura deste post é permitida apenas para pessoas com 18 anos ou mais (se você é menor de idade, não prossiga). Feito este aviso, também não quero me alongar nos efeitos negativos da bebida. Eles existem e são reais. Eu, por exemplo, depois de muita cerveja inventei de pular na parte rasa da piscina (quer dizer, eu não sabia que era rasa, quis apenas pular). Naquele dia eu havia combinado de ir e voltar com um amigo (Cabongo) porque sabia que iria beber e não queria dirigir. Quanta prudência.
Bom, mas voltando, o que eu quero escrever são divagações sobre as razões pelas quais bebemos. A primeira delas diz respeito à justificada vontade que temos de “nos desligar” um pouco dos afazeres e pressões cotidianas. Escola, trabalho, relacionamentos e congêneres nos consomem ao extremo. E olha que não estou reclamando, trabalho com aquilo que me interessa, sou muito feliz no casamento e tenho bons amigos. Mesmo assim, é prazeroso às vezes simplesmente relaxar e esquecer temporariamente os parâmetros racionais que nos guiam pelo dia-a-dia.
Na mesma linha, celebrar a felicidade e a vida constitui-se numa nobre razão para beber. É desaconselhável beber porque estamos tristes ou infelizes. Isso pode parecer contraditório com querer se afastar da realidade cotidiana, como eu disse acima. Mas é que este afastamento tem que ser na direção correta, no sentido de dar risada, conversar e compartilhar coisas com e sem importância com seus familiares e amigos. Beber é uma válvula de escape, mas só vale apena quando escapamos para um estado d´alma alegre e feliz.
É claro que nem sempre dá para controlar isso, e os nossos sentimentos e emoções ficam mais instáveis quando bebemos. Mas a dica é, pelo menos, antes de beber quando ainda estiver sóbrio, não comece pensando em “afogar as mágoas”. Outra dica – no campo fisiológico, não emocional – é não beber com estômago vazio. Dores de cabeça e desarranjo intestinal, entre outros, expressam o mau funcionamento do nosso corpo (ou simplesmente a ressaca), que pode ser evitada ou ter suas chances reduzidas de ocorrer se nos alimentamos antes de beber.
Enfim, é isso aí. Eu gosto de beber cerveja no verão, vinho no inverno e whisky quando é de graça em casamentos ou formaturas. Porém, nos últimos anos tenho bebido muito pouco. Não sei se a vida foi mais sofrida porque parei de beber, ou se não tive vontade de beber em função de não estar me sentindo bem de saúde. Acredito nesta segunda opção. Ainda não estou 100% de saúde (quem está?), mas quem sabe hoje tomo uma taça de vinho. Saúde!

quarta-feira, 18 de maio de 2011

Futebol Europeu

No fim de semana passado acabaram os campeonatos estaduais – depois de enfadonhos quatro meses – e no próximo sábado começa o Campeonato Brasileiro. Os times nacionais correm o risco de perder seus principais jogadores no meio do ano, recebendo em troca, na maioria das vezes, veteranos que já estão sem mercado na Europa. Enfim, mesmo para quem gosta, dá um certo desânimo acompanhar o futebol no Brasil. Por isso vou ignorar o título paulista do Santos (me sai bem dessa) e o início do Brasileiro para falar sobre o futebol na Europa.
É um prazer e um privilégio poder acompanhar, de Agosto a Maio, a temporada de futebol europeu. Cada fim de semana são exibidos mais de uma dezena de jogos das principais ligas: Alemanha, Itália, Inglaterra e Espanha. Particularmente, nos últimos anos, o campeonato inglês é o que mais gosto. Além de possuir um grupo potencialmente maior de times com chances de título – Arsenal, Chelsea, Manchester United e Liverpool – do que em outros campeonatos (na Espanha: Real e Barça; na Itália: Milan, Inter e Juventus; na Alemanha: Bayer e mais algum) – o futebol na “terra da Rainha” é charmoso e atraente pela qualidade dos estádios, dos gramados, da presença maciça da torcida, dos uniformes, enfim, de toda “atmosfera” em torno do jogo.
Não dá para comparar assistir a um jogo dos quatro grandes da Inglaterra – mesmo que seja contra um time pequeno – com uma partida entre Milan e Chievo Verona, por exemplo, pelo campeonato italiano, num campo ruim, com o estádio vazio e tempo chuvoso (altíssima probabilidade de 0 x 0!). Além da atmosfera, dentro de campo os jogos pelo campeonato inglês, em geral, são mais rápidos, emocionantes e disputados. O campeonato que mais se aproxima do inglês, na minha opinião, é o alemão; enquanto que, na Espanha, basicamente assistimos a um show do Barcelona ou do Real Madrid, o que é legal, mas nada além disso.
Seja como for, tenho meus times favoritos nas principais ligas da Europa: o Arsenal na Inglaterra, o Barcelona na Espanha, o Napoli na Itália e o Borússia Dortmund na Alemanha. Todos com torcidas enormes e apaixonadas, com um viés “popular”, de massa (influência da minha torcida por um time da zona leste de São Paulo). Na mesma linha, embora não acompanhe muito, meu time favorito na França é o Olympique de Marseille. A temporada que se encerra foi boa porque o Barça e o Borússia foram campeões, e o Napoli conseguiu vaga na próxima Liga dos Campeões (o ponto negativo foi o Arsenal, que “amarelou” de novo).
Mas, independentemente do desempenho dos meus times favoritos, e voltando ao início do texto, o duro é ficar sem os campeonatos europeus nos próximos meses, sendo que o campeonato brasileiro só engrena no fim do ano!
Como consolo, temos ainda a “cereja do bolo” que encerra a temporada européia: a final da Liga dos Campeões entre Barcelona e Manchester United, no dia 28 de Maio, no estádio de Wembley na Inglaterra. Pode até ser um jogo ruim (a chance disso é muito pequena), o que não muda a constatação de que o futebol na Europa está num outro patamar. Não se trata de complexo de inferioridade, mas seja pela questão técnica ou por tudo mais que envolve o jogo (estádios, torcidas, calendário, etc.), infelizmente, é covardia comparar o futebol brasileiro com o europeu (quase como comparar o basquete da nossa NBB com o que se joga na NBA).

segunda-feira, 16 de maio de 2011

A importância do gasto social

Em estudo recente, pesquisadores do IPEA mostraram que, além de atender parcela considerável da população brasileira, os gastos sociais em Previdência, Saúde, Educação, Programa Bolsa Família, entre outros, geram benefícios econômicos em termos do crescimento e da distribuição de renda no Brasil (Abrahão, J.; Mostafa, J.; Herculano, P. Comunicados do IPEA, n. 75, fevereiro de 2011).
Ao contrário do que muitas vezes é defendido por setores empresariais e da classe média, o gasto em políticas sociais não é um fardo para o Estado, quase que um desperdício. O estudo acima referido, em primeiro lugar, dá a dimensão da política social brasileira, dividindo-a em duas grandes áreas: a) Proteção e Seguridade Social (Previdência, Assistência e Saúde); b) Promoção Social e Oportunidades (Educação, Trabalho e Renda, Desenvolvimento Agrário e Cultura). Concomitantemente, há os investimentos em habitação e saneamento básico, além das políticas transversais para grupos populacionais socialmente vulneráveis (juventude, crianças e adolescentes, idosos, igualdade de gênero e raça, pessoas com deficiência).
Só para que se tenha uma idéia, o programa Bolsa Família atende cerca de 12 milhões de famílias (quase 50 milhões de pessoas); dentre idosos e pessoas com deficiência, são mais de 3 milhões de pessoas atendidas pelo Benefício de Prestação Continuada (BPC). Na Educação, no ensino fundamental e médio, são quase 40 milhões de alunos, enquanto que cerca de 90 milhões de pessoas estão incluídas no programa Saúde da Família.
É evidente que existem problemas de gestão, restrições orçamentárias e falta de qualidade em diversos serviços públicos, mas estes números explicitam a amplitude da política social brasileira. Mais do que isso, apontam para uma concepção de políticas públicas universais, gratuitas e integrais, simultaneamente operando com programas de atenção específica a determinados grupos. Esta forma de pensar a política social no Brasil é resultado de anos de luta dos movimentos sociais, construída numa direção contrária e de resistência aos interesses privados (num processo histórico que continua em aberto).
O estudo do IPEA, através de uma metodologia cuja principal ferramenta é uma matriz de contabilidade social, mostra que há um efeito multiplicador no gasto social em termos da variação do PIB e da renda das famílias. Realiza-se um exercício de mensuração daquilo que representa o investimento de cada real nas políticas social. Exemplificando, quando o Estado investi em Educação, para além dos benefícios individuais de acesso à formação escolar, desencadeia-se também um ciclo de consumo e produção motivado pelas maiores possibilidades de acesso que a educação proporciona. Raciocínio análogo e até de mais fácil entendimento ocorre quando se avalia o impacto dos programas de transferência de renda, como o Bolsa Família.
Em síntese, o gasto social traz um duplo benefício: a) atende diretamente as demandas sociais; b) promove feitos multiplicadores no PIB e na renda das famílias, melhorando sua distribuição. Assim, ao contrário de serem fonte de desperdício ou um fardo para as contas públicas, os gastos sociais trazem também ganhos econômicos. Embora tenham crescido nos últimos anos, precisam ser ainda mais elevados, particularmente em detrimento de outras despesas que pouco contribuem para o desenvolvimento social, como os juros da dívida pública.

Mecanismos de gestão, maior eficiência de alocação dos recursos, indicadores de efetividade de cada política, tudo isso é válido e precisa ser feito no intuito de aperfeiçoar os serviços públicos. Mas a grande questão de fundo é que, mesmo com os percentuais mínimos exigidos, ainda gastamos pouco como proporção do PIB em áreas como Saúde, Educação e Assistência Social. Daí a necessidade de revisão da nossa política econômica, que impõem restrições fiscais ao governo e desloca parte substancial dos gastos públicos para fora área social. As enormes desigualdades sociais e de renda que ainda nos caracterizam, exigem que se caminhe nessa direção.

sábado, 14 de maio de 2011

Problemas no Blogger

Ontem o blogger, da google, que hospeda o blog, estava com problemas. Não consegui publicar o texto e infelizmente alguns comentários da postagem anterior foram perdidos. Bom, mas na segunda-feira eu volto!

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Quem quer ser....deficiente?

A pergunta provocativa e esdrúxula do título se justifica em razão do que vem acontecendo no Brasil nos últimos anos em termos da utilização de legítimos direitos conquistados pelas pessoas com deficiência. Quando perceberam as vantagens e benefícios que “ser deficiente” pode proporcionar, algumas pessoas se apressaram a entrar para o clube e usufruir de isenções fiscais, vagas reservadas em concursos públicos ou gratuidades das mais variadas.
Por isso também usei o termo incorreto e já superado “deficiente” – e não o adequado “pessoa com deficiência” – na pergunta do título. De maneira geral, aqueles que “querem ser deficientes” não participam de grupos, associações ou mesmo freqüentam entidades e/ou movimentos de pessoas com deficiência. Eles apenas percebem que para determinada finalidade de interesse pessoal vale a pena conseguir um laudo médico e entrar na Justiça para lutar e buscar sua “certificação” da deficiência!
Já os que, em função de um acidente ou por uma causa congênita, tem uma limitação física, sensorial e/ou cognitiva, querem o contrário: lutar para se afirmar como pessoas, como cidadãos, desvencilhando-se da deficiência como definidora da sua condição. Para tanto, buscam equiparação de oportunidades, fazendo jus, com base em critérios de justiça e equidade, às ações afirmativas (cotas no mercado de trabalho e reservas em concursos públicos) e também determinadas políticas compensatórias como isenções, gratuidades e benefícios.
No processo de construção de uma sociedade inclusiva, que respeite a diversidade e as diferenças entre as pessoas, existem dois tipos de legislação e políticas públicas que devem ocorrer de maneira combinada e simultânea:
a) legislações específicas e políticas específicas. Estas garantem vagas nos concursos públicos ou cotas no setor privado, definem isenções fiscais, gratuidades e concedem uma gama variada de benefícios. Elas se justificam dada a realidade histórica de exclusão e discriminação das pessoas com deficiência. Porém, devem ser restritas a quem de fato delas necessitam, fazendo-se, para sua concessão, a adoção de critérios de renda ou mesmo da gravidade da limitação funcional que a deficiência provoca. Precisam, ainda, ser pensadas numa perspectiva de tempo, ou seja, deve-se caminhar para diminuição ou abandono de tais legislações à medida que se constrói uma sociedade acessível e emancipatória para as pessoas com deficiência.
2) legislações e políticas universais. Garantem direitos humanos, civis, políticos, sociais e econômicos às pessoas com deficiência, assim como ocorre para todos os cidadãos. Pautam-se pelos princípios de equiparação de oportunidades e participação plena, não necessitando de definições ou critérios rígidos para sua aplicação. À medida em que tenham êxito, contribuem para o abandono das legislações específicas, colaborando para sociedade inclusiva com a qual sonhamos.
Em síntese, precisamos estar atentos para que não prevaleçam situações onde a “deficiência” é usada, indevidamente, como forma de se obter vantagens pessoais. É legítimo e justo defendermos, por exemplo, o cumprimento da “lei de cotas” ou até mesmo o estabelecimento de uma “renda cidadã” para as pessoas com deficiência, pois este grupo populacional, em muitas situações, incorre em elevados custos financeiros para sua sobrevivência diária. Mas tais políticas serão mais eficientes, justas e efetivas na medida em que menos “oportunistas de plantão” se apresentem para usufruí-las.
Sei que essa é uma discussão difícil e controversa. Não é fácil mensurar o grau de limitação das pessoas. Porém, no fundo, uma reflexão simples ajuda muito para avaliar quem tem ou não direito a determinados benefícios: ninguém quer ter uma deficiência, ela é apenas uma circunstância da vida, só isso. Se o indivíduo fica lutando para se provar como tal, desconfie.    

segunda-feira, 9 de maio de 2011

Tênis e Natação

Uma das razões pelas quais o futebol é o esporte mais popular no Brasil e em muitos países do mundo é sua característica peculiar: o time mais fraco pode vencer o mais forte. Não raro acontece de um time com jogadores menos habilidosos e técnicos vencer seu adversário. Em outras palavras, futebol é emocionante porque tudo pode acontecer, mesmo com o Barcelona tentando nos mostrar o contrário.
Tal constação não significa que outros esportes – onde na grande maioria das disputas prevalece a lógica de que aquele com melhor desempenho  vence – não tenham graça. Eu, particularmente, gosta e acompanho bastante os chamados esportes olímpicos. Na semana que passou me diverti acompanhando o torneio Masters 1000 de tênis, em Madrid, e o Trófeu Maria Leck de natação, no Rio de Janeiro.
Decidi então fugir do futebol e escrever algumas considerações sorte o tênis e a natação (talvez também por causa do medo do Coirinthians levar uma surra do Santos na final do Paulista). Bom, mas vamos lá.
 Escrevo este texto na sexta, dia 6, às 8h00 da manhã. Daqui há pouco o Thomaz Bellucci, melhor brasileiro no ranking mundial, vai disputar as quartas de final do Masters 1000 de Madrid. É o seu melhor resultado em torneios desse porte, e para chegar até aí ele venceu o escocês Andy Muray, número quatro do mundo, nas oitavas de final. Ele pode até perder (o que é o mais provável), mas a campanha atual já é um grande feito.
As pessoas que não acompanham o tênis, em grande medida influenciadas pelos anos de vitórias e conquistas do Guga, muitas vezes não tem a dimensão do que é estar entre os 50 melhores jogadores do mundo (como é o caso do Bellucci nos últimos dois anos). Esse esporte – com milhares de jogadores profissionais pelo mundo e dezenas de torneios em praticamente todas as semanas do ano – exige um altíssimo desempenho para ficar entre os melhores.
O Bellucci não é nem será o Guga, mas é o melhor desde que ele parou de jogar e mesmo quando é eliminado nas primeiras rodadas dos torneios não pode ser rotulado como fraco ou medíocre.
Tirando os fora de série – como Nadal, Federer e Djokovic (que entrou para este grupo neste ano) – os 50, 70 melhores jogadores no ranking tem um tenis similar e de altíssimo nível. Não é tarefa simples se manter nesse pelotão de elite e tomara que o Bellucci possa continuar aí, o que permite “beliscar” excelentes resultados como acontece esta semana no Masters de Madrid, mesmo que ele perca feio hoje.
Passando para natação, gostaria apenas de registrar a "grande safra" que está ativa nesse esporte no Brasil, cujos principais representantes são o César Cielo, Felipe França, Thiago Pereira e Kaio Márcio. Assim como no tênis – e também como ocorre em outros esportes contra o relógio – a natação de alto nível exige uma dedicação sobre-humana, com treinos diários e uma rotina longe de enormes prazeres da vida (beber, comer, etc.). Temos que reconhecer os esforços destes atletas de alto nível, que praticam um esporte refinado e belo como é a natação.
Em comum, o tênis e a natação no Brasil apresentam uma performance muito melhor entre os homens do que entre as mulheres. Além disso, os atletas citados acima ainda são jóias raras, que conseguiram resultados expressivos bem mais por seus méritos próprios do que por uma política de amparo e incentivo ao esporte. O alento é que isso parece estar mudando. Basta acompanhar o contínuo crescimento dos recursos públicos e privados investidos nos esportes olímpicos nos últimos anos.
Tomara que, para além do futebol, possamos ser um país com bom desempenho em esportes como tênis, natação, judô e atletismo, que são também fontes de inspiração para crianças e jovens.
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Atualizações: 1) o Bellucci venceu o Berdych na sexta e fez jogo duro com o Djokovic na seminal no sábado. Perdeu, mas atingiu a posição 22 no ranking mundial. 2) Corinthians e Santos fizeram um jogo equilibrado. Em condições normais, o Santos seria favorito no próximo domingo. Mas eles tem Libertadores e desfalques, e o Corinthians cresce em finais. Tudo pode acontecer.

sexta-feira, 6 de maio de 2011

Inflação e Juros

No governo Dilma há uma mudança positiva – mesmo que ainda tímida – na condução da política monetária. O Banco Central na gestão de Tombini tem tentado controlar a inflação sem exagerar na dose (juros altos), o que provocaria desaquecimento excessivo do nível de atividade econômica, com elevados custos sociais.
Ainda estamos longe de um cenário ideal, mas essa estratégia gradualista na condução da política monetária faz sentido e deve continuar, mesmo com enormes pressões no sentido contrário vindas do mercado financeiro e boa pare da mídia. O “terrorismo inflacionário”, clamando por juros ainda mais altos, é contínuo e estridente (creio que no BC de Meirelles estaríamos já com uma taxa próxima de 15%!).
Como já apontaram vários analista, parte substancial do repique inflacionário dos últimos meses se deve ao aumento dos preços dos alimentos a nível mundial. Este aumento se explica pela crescente demanda, mas sobretudo pelo movimento financeiro/especulativo envolvendo os preços das commodities, num ambiente de ampla liquidez proporcionada pela política monetária dos EUA.
Entretanto, o próprio governo reconhece que existem também pressões internas – como a inflação no setor de serviços – justificando a cautela da política monetária. Mas o BC tem procurado não exagerar nos juros e, além disso, utilizar outros instrumentos ligados à restrição do crédito para conter a demanda interna (as chamadas medidas macroprudenciais).
Esse caminho é correto porque, como se sabe, aumento das taxas de juros produz pelo menos mais dois efeitos negativos além do desaquecimento da economia: gastos crescentes com esta despesa financeira e a valorização excessiva da taxa de câmbio.
Nesse sentido, é alentador ouvir do ministro da Fazenda, em audiência no Senado, que “dói no bolso” gastar 180 ou 190 bilhões de reais anualmente para o pagamento dos juros e serviços da dívida. É claro que no médio prazo será preciso persistir na diminuição da taxa Selic e num reposicionamento do câmbio em nível mais competitivo, mas como disse o professor Edgar Pereira da Unicamp em programa recente na Globonews, a hora é de cautela e sangue-frio para que se atravesse esse período inflacionário sem maiores danos para o crescimento econômico.
Se fecharmos a conta em 2011 com inflação de 6,5 %, dentro da margem de tolerância da meta (que existe justamente para momentos de choques de oferta e/ou externos), e crescimento de pelo menos 4,%, está muito bom. Dessa forma, o governo ganha fôlego para avançar nas mudanças que estão em curso na política monetária, caminhando-se para diminuição progressiva dos juros no país (aliviando a política fiscal), além de cuidar da taxa de câmbio que está sobrevalorizada.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Copa do Mundo e Olimpíadas no Brasil


Alguns jornalistas, de forma até bem intencionada, fazem a seguinte pergunta: é preferível gastar 5 bilhões de reais na Copa do Mundo ou na construção de escolas? Evidentemente, se uma alternativa anulasse a outra, a escolha seria pela segunda opção. Ocorre que este é um questionamento simplista, uma visão limitada das coisas, que não vislumbra os efeitos dinâmicos, em termos sociais e econômico, que a realização de uma Copa do Mundo pode trazer.
Poderia se comparar, por exemplo, o gasto de 5 bilhões previsto para a construção dos estádios com o montante que se paga anualmente com juros e encargos da dívida pública: algo em torno de 180 bilhões de reais! Ou a proporção que estes 5 bilhões representam no PIB do Brasil, que foi de 3,6 trilhões de reais em 2010. Colocando o investimento para construção das arenas nessa perspectiva mais ampla, porque não utilizar esses recursos numa dezena de estádios, que serão ocupados todo o fim de semana por milhares de pessoas?
Bom, aí temos um problema. Sou favorável à realização da Copa, mas é um equívoco construir estádios nas cidades onde não há demanda, onde o futebol é praticamente amador. Em Manaus, Cuibá, Brasília e, em menor medida, Natal, vamos ter os chamados “elefantes brancos”. Nesses casos faz sentido falar em desperdício, pois não se inventa artificialmente um clube ou uma torcida a partir da simples existência do estádio.
Agora, em São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Curitiba, Salvador, Recife e Fortaleza, o futebol já atrai multidões semanalmente, com clubes de tradição e torcidas apaixonadas. Porque não investir 0,15% do PIB em estádios modernos e confortáveis? Os mesmos jornalistas que fazem a pergunta simplória do início do texto, reclamam há anos da má qualidade dos nossos estádios. A realização da Copa do Mundo é uma ótima oportunidade para fazer este investimento, melhorando também a infra-estrutura urbana e o sistema de transporte das principais cidades do país.
É claro que todo esse processo tem que ser monitorado pelos órgãos de fiscalização – como o Tribunal de Contas da União, o Ministério Público e o Congresso – além da sociedade civil organizada e da própria mídia. Os ganhos com os estádios novos e as melhorias de infra-estrutura serão somados aos milhares de empregos diretos e indiretos que a Copa vai gerar, trazendo também ao país turistas e empresas interessadas em investir.
Entretanto, é óbvio que nem tudo são flores. Além dos “elefantes brancos”, outra questão que preocupa é o pessoal que toma conta do nosso futebol na CBF. É preciso ficar em cima, como fez o jornal “Lance” no início do ano, revelando irregulares num contrato sobre os lucros da Copa, provocando sua alteração. Felizmente, temos gente séria na imprensa, nos órgãos de fiscalização e nas instâncias de participação e controle social.
Por tudo isso, e mesmo com as ressalvas colocadas, acho que será uma boa a Copa no Brasil em 2014. Vou deixar para falar das Olimpíadas numa outra ocasião. Só adianto um ponto de vista que, creio eu, vai no sentido contrário do senso comum: dois eventos assim tão próximos me parece um exagero, acaba um tirando o foco do outro.
Deveríamos estar concentrados exclusivamente na organização da Copa do Mundo, que tem mais a ver com nossa cultura esportiva centrada no futebol. Poderíamos continuar investindo no esporte olímpico, melhorar nosso desempenho e daqui há 12, 16 anos, quem sabe, se candidatar a fazer os jogos olímpicos.
Bom, mas como torcedor é óbvio que vou curtir muito ter tudo isso no Brasil nos próximos anos....sempre atento para que as coisas aconteçam corretamente!
   

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Cartas a um Filho em Coma - real e visceral

Reproduzo texto da amiga Katia Fonseca, jornalista e presidente do CVI-Campinas, do blog: http://www.rac.com.br/blog/32/to-dentro

O escritor R. Roldan-Roldan* acaba de postar em seu blog o livro Cartas a um Filho em Coma. É um relato, acima de tudo, corajoso, no qual Roldan fica nu diante do leitor ao narrar sentimentos tão viscerais que um pai sente diante do filho quase morto.
O relato é real e, hoje, o filho que ficou em coma vários meses, está vivo, é lindo e inteligente. Ainda se recupera do grave acidente de moto que sofreu, está em uma cadeira de rodas e tem algumas dificuldades
motoras.
Sendo assim, a maior parte das aflições do pai - o escritor - já passou.
Mas a experiência ficará para sempre incrustrada em sua alma de poeta, uma ferida que, mesmo depois de fechada, deixará com uma cicatriz profunda.
Roldan, assim como o filho, ainda está em processo de recuperação. E
ambos, tenho certeza, nasceram de novo. Que sejam bem vindos de volta!

Confiram o livro no site http://www.davidhaize.wordpress.com/.

* R.Roldan-Roldan nasceu na Espanha, foi criado no Marrocos, e vive em
Campinas. Tem mais de 20 livros publicados e é colaborador do jornal
Correio Popular.

12.824 dias

Você já parou para pensar quantos dias já viveu? Ontem à noite perdi o sono. Enquanto assistia as notícias sobre a morte do Osama Bin Landen, fiquei fazendo esta conta. Tenho pouco mais de 35 anos e um mês de idade, ou 12.824 dias! Caramba, pensando desse jeito dá um tempão, não é mesmo? Sinta o tempo de um dia e multiplique mais de 12 mil vezes....curioso que, simultaneamente, a grande maioria de nós acha que o tempo passa cada vez mais rápido.
Continuando com meus pensamentos sem sentido por causa da insônia, descartei um terço dos meus dias, pois dizem que utilizamos, em média, 1/3 do nosso tempo para dormir. No meu caso, algo em torno de 4.275 dias dormindo! E não exatamente “descartar”, pois dormir, além de necessário, é bom. Mas como foram meus outros 8.548 dias em que estive acordado?
Me dei conta de que existem coisas que a gente pensa em todos os dias da nossa existência. Por exemplo, quanto eu tinha 6 anos, ou apenas cerca de 2.200 dias, me lembro de assistir a final do Campeonato Paulista. O Corinthians, da saudosa fase da “democracia corintiana”, arrasou o São Paulo e foi campeão, com direito a show de Sócrates, Casagrande, Biro-Biro e companhia. Desde então, vendo um jornal, ouvindo no rádio, assistindo um jogo ou acessando a Internet, todos os dias, eu penso no Corinthians.
Maluquice né? Mas, seguindo em frente, a partir de Dezembro de 1989, quando houve eleição presidencial depois muitos anos no Brasil, eu, com 13 anos ou aproximadamente 4.745 dias, passei a dar importância e acompanhar política. Antes de completar 18 anos de vida (6.570 dias), entrei na Economia da Unicamp. Não, não passei a pensar diariamente nas questões econômicas. Boa parte do meu primeiro ano na Faculdade foi ocupada para jogar truco, tomar cerveja e outras coisas prazerosas!
Indo em frente, ao passar a marca de 7.000 dias vividos, tive o acidente que me deixou tetraplégico. Foi duro e difícil. Mas quatro anos depois, com cerca de 8.500 dias de existência, conheci a Regina, minha esposa.
Enfim, desculpem pela inutilidade do texto! No fundo, eu queria apenas dizer que, com essa loucura da vida moderna, dificilmente paramos para pensar no tempo que passou e nas coisas que já vivemos. A maioria dos nossos dias, creio eu, são “normais”. Mas todos nós já vivemos dias tristes e escuros, como também dias alegres, felizes e com sol. Seja como for, vale sempre aquela máxima: “carpe diem”! Viva bem o seu dia. Se tudo der certo, amanhã tem mais. Boa semana a todos.