Amanhã, sábado, o Centro de Vida Independente de Campinas (CVI-Campinas), uma ONG fundada e gerida pelas próprias pessoas com deficiência, fará a distribuição gratuita de folders e cartilhas que foram produzidas pela ONG nos últimos anos. A atividade será no Centro de Convivência em Campinas, das 10h00 às 13h00. Mais informações sobre esse evento e também sobre a história, projetos e filosofia do CVI-Campinas podem ser obtidas no site http://www.cvicampinas.org.br/.
Depois de assistir a uma palestra da jornalista e publicitária Flávia Cintra (tetraplégica, que inspirou uma personagem de uma novela ano passado), decidi seguir o conselho dela e fundar o CVI em Campinas. Na ocasião, Flávia era presidente do CVI-Santos, e eu tinha menos de três anos de lesão medular, fazendo ainda reabilitação na ACCD em São Paulo, em 1997. Em outubro daquele ano, mandei uma carta ao jornal Folha de São Paulo manifestando essa intenção, e a primeira pessoa que me respondeu foi minha amiga Katia Fonseca (http://www.rac.com.br/blog/32/to-dentro), comigo até hoje na diretoria do CVI (na primeira reunião já esteve presente Fábio Alves, também no CVI desde então, com quem dividi muitas coisas sobre as fases iniciais da tetraplegia)
Em Agosto próximo, depois de 14 anos seguidos, vou deixar a diretoria do CVI-Campinas. Sinto que chegou a hora de “fechar um ciclo de vida”. Como já disse alguém, na nossa passagem aqui na Terra vivenciamos variados e diferentes fases ou ciclos, seja no campo afetivo ou familiar, seja na esfera de formação escolar ou profissional. Destes últimos é que vou falar hoje.
Aos 35 anos, vive três grandes ciclos de vida “profissional ou de formação”: dos 7 aos 17 anos, na Escola Comunitária de Campinas (ECC), dos 17 aos 34, no Institudo de Economia da Unicamp, e dos 21 anos até os dias atuais, no próprio CVI-Campinas.
Me lembro de entrar de mãos dadas com minha mãe, com medo e inseguro, vindo de Mogi Mirim, no enorme pátio da ECC em 1983 para cursar a primeira série. Lá fiquei até terminar o terceiro colegial, em 1993. Dessa escola, além da boa formação (especialmente para escrever), levei amigos para a vida toda, mesmo sem vê-los com freqüência. No ano seguinte, 1994, ingressei no curso de Economia da Unicamp. Do dia do “trote”, em que fiquei com a cara pintada de tinta, pedindo dinheiro em semáforo para tomar cerveja à noite (e adorei), até 03 de dezembro de 2010, quando defendia a tese de doutorado, foram nada menos do que 17 anos. Da Economia da Unicamp também levo bons e queridos amigos, além de uma formação crítica que melhor permite entender o Brasil, fundamentada em elementos históricos, sociais e políticos, fugindo da "neutralidade" da análise econômica baseada apenas em indicadores e parâmetros econométricos.
Ao deixar a diretoria do CVI-Campinas em Agosto, por opção própria, terão sido 14 anos de envolvimento com este tema, convivendo com pessoas que me ensinaram muito e com quem pude compartilhar uma infinidade de questões. Na primeira atividade do CVI-Campinas, eu, a Katia e o Fábio fomos a um seminário sobre vida independente, promovido pelo CVI-Rio de Janeiro, em Dezembro de 1997. Lá aprendemos que, para além de uma organização que presta serviços às pessoas com deficiência, o CVI significa uma filosofia de vida, uma forma libertadora e emancipatória de pensar a própria deficiência. Assim, vou estar sempre neste movimento, mesmo sem um cargo formal.
Em síntese, quero dizer o seguinte: o importante em fechar ciclos de vida é, antes de mais nada, termos tido a oportunidade de iniciá-los. Ao vivenciá-los de forma intensa e procurando fazer o melhor, boas coisas sempre ficam e, no fundo, incorporamos para sempre e de forma positiva aquilo que foi vivido, nos permitindo seguir em frente. Hoje, a partir das condições físicas e emocionais que se definiram na minha, guardadas as proporções, “segunda lesão medular” em 2009, estou em busca de novos ares, novos ciclos de vida.
Carissímo Vinicius
ResponderExcluirque a sua marca no CVI CAMPINAS ficará indelével e provocadora de novos ativistas... e espero que o CVI possa continuar sua luta em Campinas para o reconhecimento e efetivação de direitos das pessoas com deficiência...e estaremos contribuindo com o que pudermos para isso... pode ser com os novos ciclos e as novas visões sobre viver... com sensibilidade e criatividade. um doceabraço e que venha Agosto e muitos dias depois.
Vi, andei pensando sobre esse "fechamento de ciclo" no CVI-Campinas e uma das ideias que me passa pela cabeça é que fizemos tudo o que fizemos nesses 14 anos por uma necessidade nossa, porque era vital para nós, era a nossa forma de ser no mundo: lutando e agregando pessoas, ideias e ideais. Durante esse tempo, eu achava que estava no CVI-Campinas para "plantar sementes", para abrir portas e "formar" uma geração de pessoas com deficiência conscientes de seus direitos. Por isso, ficava triste quando percebia que o CVI-Campinas continua pequenininho, com poucas pessoas e sempre "por um fio". Mas com esta minha nova percepção - de que fizemos por nós mesmos e não por outros, pelos outros ou para ajudar os outros - fico muito feliz, pois assim como você, vivi um período maravilhoso no CVI-Campinas, contente por estar realizando nossos sonhos na busca de uma sociedade mais justa. E a luta continua - e acho que não acabará nunca -, em cada tempo (ou ciclo, como diz você) com o jeitão de quem está no comando, de quem está em seu momento próprio de luta. Eu, assim como você, estou num momento de "virada" - e estou desconfiada que é uma virada pra dentro, de introspecção. Mas sempre acreditando na humanidade, exatamente porque existem pessoas pelas quais vale a pena viver, conhecer e amar, como você. Continuamos juntos, amigo!
ResponderExcluirCaro Jorge,
ResponderExcluirmesmo sem uma participação, digamos, oficial, você também faz parte da história do CVI-Campinas. Muitas vezes fomos provocados e estimulados por você!
Um grande abraço e segue a vida!
Querida Katinha,
ResponderExcluircurioso como os nossos ciclos de vida continuam sincronizados! Muita interessante sua observação, também acho que fundar o CVI-Campinas, discutir uma enormidade de projetos, idéias e ações, enfim, se dedicar de corpo e alma para essa luta, como fizemos, foi antes de tudo uma necessidade nossa, uma forma que encontramos para nos motivar. Se não fosse a deficiência, muito provavelmente haveria outra "causa", até porque nunca pensamos o CVI como uma forma de organização particular e exclusiva das pessoas com deficiência. Obrigado por compartilhar essa experiência e tenho certeza de que, nessa sua "virada instrospectiva", continuará havendo espaço para os amigos. Grande beijo, Vi.
---------- Mensagem encaminhada ----------
ResponderExcluirDe: Vinicius Garcia
Data: 28 de maio de 2011 20:19
Assunto: Re: novo texto
Para: Daniel Höfling
Dani,
foi muito bom mesmo, assim como o primeiro ano da Faculdade...ótimo que a gente viveu isso! Vamos levar para sempre! Obrigado e bons ciclos para vc também meu amigo!
Grande abraço,
Vini.
Em 27 de maio de 2011 10:11, Daniel Höfling escreveu:
Vini,
fiquei emocionado ao lembrar do nosso trote....como vc bem disse, esse lance dos ciclos marcam nossa vida e de certa maneira nunca saem de nós. Eles se fecham mas ficam "orbitando" ao redor da nossa consciência.....que vc continue tendo belos ciclos de vida.
abração,
Daniel de Mattos Höfling
Katia Fonseca Oi Vi, deixei um "comentarião" lá no seu blog. Você anda me inspirando...
ResponderExcluirsábado às 01:27 · CurtirCurtir (desfazer).Vinicius Gaspar Garcia Valeu Katinha!
sábado às 21:03 · CurtirCurtir (desfazer).Flavia Martucci meu herói =)
há 2 minutos · Curtir (desfazer)Curtir · 1 pessoaCarregando....Vinicius Gaspar Garcia Um beijo Flavinha!
há 2 segundos · CurtirCurtir (desfazer).