A lesão medular – ou trauma raquimedular (TRM) – é um dos grandes desafios que resta para a medicina. Suas causas mais comuns são acidentes no trânsito (particularmente com motos) e aqueles provocados por arma de fogo (embora o clube dos mergulhadores frustrados, como eu, não seja pequeno). O TRM é mais freqüente em homens do que em mulheres, predominando numa faixa etária jovem, de 18 a 25 anos.
De maneira geral, a lesão na medula é irreversível, sendo mais incapacitante do ponto de vista físico e sensitivo quanto mais alta for. Ou seja, traumas no pescoço (cervical) causam danos maiores, atingindo também braços e mãos, o que não ocorre na paraplegia (traumas na coluna torácica ou lombar). Além da perda motora e de sensibilidade, a TRM traz outros problemas como o descontrole das funções biológicas (o que, como já discuti aqui, me parece a pior parte desta coisa toda – http://vggarcia30.blogspot.com/2011/04/pior-parte.html).
Nos últimos anos, muito se tem pesquisado e estudado sobre as possibilidades de “cura” da lesão medular. As maiores esperanças estão nas chamadas células-tronco, mas existem avanços também através do uso de novas tecnologias (como a eletro-estimulação). De uma forma ou de outra, creio que é importante fazer algumas considerações sobre este tema, pois um mau entendimento sobre ele pode gerar frustrações na pessoa com uma deficiência física, seus familiares e amigos.
A “cura” entendida como a reversão completa do quadro provocado por uma lesão medular é praticamente impossível, especialmente para aqueles que tiveram o TRM já há algum tempo. As seqüelas que tal situação provoca não podem ser simplesmente corrigidas automaticamente, seja por uma intervenção cirúrgica ou pelo uso de tecnologia. A medida em que passa o tempo, as “marcas” da lesão medular pesam mais sobre um corpo que, obviamente, assim como para todos, envelhece.
Numa perspectiva médico-clínica, a melhora pode ocorrer com ganhos físicos, sensitivos e fisiológicos gradativos, o que já é muita coisa. Por mínimo que seja, o incremento de qualquer movimento para o tetraplégico lhe será bastante útil. Se, por exemplo, novas tecnologias permitirem maior controle das funções biológicas, haverá sensível melhora na qualidade de vida. Até que isso ocorra, é preciso tentar se manter saudável e apto para melhor absolver os avanços da medicina.
Já do ponto de vista, digamos, social, a “cura” significa viver dignamente mesmo com as limitações da lesão medular (ou qualquer outra deficiência). Em outras palavras, a deficiência não é sinônimo de doença, isto é, aquele que possui uma limitação física, sensorial ou cognitiva pode viver muito bem sem ter que ficar constantemente tomando remédios ou “se tratando”.
O desafio é grande, não é fácil. Eu, por exemplo, já me sentia totalmente curado, socialmente falando. Foi quando novas seqüelas físicas se manifestaram nos últimos dois anos, e me vi novamente num processo de reabilitação por melhoras clínicas. Além de ser complicada para a medicina por não ser totalmente reversível, a lesão medular traz grande complexidade para definição de diagnósticos. Com inquietante preocupação, cada vez mais acho que os médicos, mesmo os especialista, não sabem ao certo o que me provoca dores, mal-estar e desconfortos.
O negócio é seguir vivendo e respirando, dia após dia, ocupando a cabeça e torcendo para que a “cura” seja possível, se não a física, aquela que permite sentir-se bem e saudável mesmo com uma lesão medular.
Muito bom, Vi. Objetivo e esclarecedor, em tom confidencial e testemunhal. Você vai virar meu escritor predileto! Beijão!
ResponderExcluirValeu Katinha! Estou gostando bastante de escrever, e suas opiniões são sempre bem-vindas!
ResponderExcluirBjs,
Vi.
De: Vinicius Garcia
ResponderExcluirData: 26 de maio de 2011 10:39
Assunto: Re: novo texto
Para: Luiz Francisco Toledo
Valeu Kiko!
Abraço!
Em 25 de maio de 2011 11:14, Luiz Francisco Toledo escreveu:
Muito bom o texto Vi.
---------- Mensagem encaminhada ----------
ResponderExcluirDe: Vinicius Garcia
Data: 26 de maio de 2011 10:41
Assunto: Re: novo texto
Para: ml-garcia
Obrigado mãe!
Bjs,
Vi.
2011/5/25 ml-garcia
Gostei. Bjs