sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Recesso e Boas Festas


Prezados (as) amigos (as),

na data de hoje o blog entra em recesso, voltando apenas em Janeiro. Aproveito a oportunidade para agradecer fortemente a todos vocês pelo compartilhamento de idéias, troca de informações e outras interações que tivemos neste espaço. Foram 9 meses de blog, de Abril até Dezembro, com dezenas de postagens, centenas de comentários/e-mails e milhares de visualizações de página. Mais do que qualquer número, agradeço pelo prazer de ter reencontrado pessoas com as quais não conversava há muito tempo e ter tido um contato mais estreito com amigos próximos e familiares, além de conhecer gente nova. Mesmo aqueles que não puderam me escrever diretamente, agradeço por terem recibo as mensagens! Como vocês sabem, o blog funciona como "válvula de escape", como alternativa para ocupar meu tempo com algo produtivo. Assim sendo, termino o ano satisfeito e motivado para manter o ritmo em 2012.

Meus sinceros votos de Feliz Natal e próspero Ano Novo! Saúde, paz e alegrias....vamos em frente!

Abraços,
Vinicius.

obs. 1: em função do período festivo, sugiro a leitura do post abaixo, cujo título é "Beber": 

obs. 2: cerca de 100 e-mails recebem as atualizações do blog. Depois pensei que, antes de incluir na minha lista, deveria ter perguntado se as pessoas tinha interesse em receber. Como já foi, peço que aqueles que não quiserem mais receber as atualizações, por-favor me escrevam que eu retiro o e-mail da lista. Prometo que não vou ficar chateado!

  

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

Balanço de um ano do governo Dilma


No início de Junho de 2011, escrevi o texto abaixo fazendo um breve balanço dos 5 primeiros meses do governo Dilma. Na verdade, relendo a postagem, fiz apenas comentários sobre episódios que estavam “pipocando” na imprensa naquele momento: o livro didático do MEC com o “erro” de português, a votação do Código Florestal, a polêmica do kit anti-homofobia e, especialmente, o caso Palocci. Chamei atenção também para o lançamento do programa “Brasil sem Miséria”, que se deu no meio do quadro de turbulência política.

“Cinco meses do governo Dilma”

Depois de quase 6 meses, completando-se agora um ano de governo, é hora de um novo balanço. Vou procurar ser bastante objetivo e organizar a discussão em duas dimensões: a) economia; b) política; concluindo ao final com algumas considerações gerais.

ECONOMIA

As perspectivas para o ano em termos do crescimento econômico foram frustradas, pois ao invés de uma taxa próxima a 5%, vamos fechar com alguma coisa em torno de apenas 3% neste ano. A inflação ficará em torno da banda superior da meta, 6,5%, e mesmo o mercado de trabalho já dá claros sinais de desaceleração.

Acredito que, mais do que uma discussão conjuntural da economia, o que precisa ser sempre lembrado são os limites do atual modelo de política econômica no sentido de permitir transformações sociais mais profundas no país.

Enquanto permanecermos com a maior taxa de juros reais do planeta – implicando na transferência de R$ 200 bilhões anuais para pagamento da dívida pública, juros e encargos financeiros – ao passo que se gasta, em valores aproximados, R$ 70 bilhões na Saúde e R$ 60 bilhões na Educação, a equação para uma real melhora nas condições sociais de grande parte da população simplesmente não fecha.

É claro que existem problemas de gestão e outras questões burocráticas, mas é preciso que o gasto per capita em Saúde e Educação no Brasil – só para ficar nessas duas áreas-chave – se aproxime de patamares civilizatórios e próximos daqueles observados em países mais avançados e mesmo de vizinhos sul-americanos como a Argentina, Chile e Uruguai. Níveis de investimento que possam responder às debilidades histórias e acumulativas da estrutura física e dos recursos humanos necessários para políticas públicas satisfatórias de Saúde e Educação. A atual política econômica – em particular pela sua dimensão monetária-fiscal – drena recursos que deveriam ser destinados para essas e outras políticas sociais.

O problema é que a discussão sobre como baixar os juros envolve interesses fortemente estabelecidos no topo da pirâmide social e nas grandes estruturas de mídia e comunicação do país. Tal debate, sem dúvida, envolve uma discussão “técnica” relacionada, dentre outros aspectos, ao perfil da dívida pública brasileira e à característica peculiar do processo de formação de preços na economia brasileira, ainda fortemente influenciado por mecanismos de indexação. Mas há um componente “político-ideológico” nesse debate. Embora tenha dado alguns passos tímidos para se livrar dos consensos dogmáticos e conservadores do chamado “mercado financeiro”, o Banco Central – e até mesmo o Ministério da Fazenda – não atuam de maneira independente destes interesses financeiros estabelecidos desde a estabilização da economia, pós 1994.

Ao lado de uma política monetária que se vale das maiores taxas de juros do mundo – e constrange a política fiscal, exigindo significativos superávits primários – permite-se a livre mobilidade de capitais, sobrevalorizando nossa taxa de câmbio. Tal situação produz efeitos negativos na nossa indústria e na capacidade do país em produzir e exportar bens manufaturados e de alto valor agregado. Ao nos especializarmos na exportação de bens primários, e tendo que importar produtos e bens mais avançados e com elevado conteúdo tecnológico, transferimos empregos de boa qualidade para fora do país e debilitamos as contas externas do país.

O Brasil é um país ainda em construção e com um passivo enorme na área social que afeta milhões de brasileiros (na educação, saúde, transportes, habitação, saneamento básico, moradia, etc.). Uma política econômica verdadeiramente exitosa deveria proporcionar recursos para essas áreas e, simultaneamente, permitir taxas de crescimento da ordem de, pelo menos, 5% ao ano (gerando oportunidades crescentes de emprego e renda). Infelizmente, não parece ser esta a direção para qual caminha a condução da Economia no governo Dilma.

POLITICA

A queda de Ministros em série exige reflexões quanto ao cenário político atual e, mais que isso, quanto ao sistema político brasileiro e, digamos, suas excentricidades. A saída de vários Ministros permite também mais de uma interpretação, às vezes em sentidos opostos: cresce a corrupção ou aperfeiçoam-se os mecanismos de controle? Aumentam os “desvios éticos” ou houve menor tolerância? A imprensa cumpre seu papel ou está interessada apenas em manter o governo acuado?  

Com sinceridade, me parece contraproducente debater tais aspectos, escândalo após escândalo, saindo fulano e entrando sicrano, sem que se discuta a fundo os graves problemas do nosso sistema político. Porque, sejamos honestos, as táticas e os problemas que o governo do PT enfrenta no plano federal são iguais aquelas utilizadas e enfrentadas pelo PSDB no âmbito estadual em São Paulo, e por aí vai. Ninguém detém o monopólio da ética ou ônus exclusivo da corrupção, pois a nossa representação política e, mais do que isso, a forma pela qual são construídos e funcionam os diferentes governos está tão deturpada que é inócuo “individualizar” o debate.

Deve-se deixar claro que a constatação anterior não exime ninguém de culpa ou dá aval para corrupção. Apurou-se uma irregularidade, que os responsáveis sejam punidos. Mas é preciso ir além. Qual o sentido de permitidos a existência de quase 30 partidos políticos? Impossível haver quase 30 ideologias ou programas de governo distintos. Tem-se então um “caldo de cultura” para promiscuidade política, troca de favores e gasto desnecessário de recursos, tempo e energia. 

Mas limitar o número de partidos não é suficiente se eles continuarem intrinsecamente relacionados com os interesses privados que os financiam. Por mais que a opinião pública não entenda ou seja contra, deve-se insistir na tese do financiamento público de campanha, com recursos limitados e bem fiscalizados, preferencialmente para um número menor e mais razoável de partidos políticos.

A votação mista, sendo metade em candidatos e outra metade na legenda (que define uma lista prévia de candidatos), é importante para forçar uma discussão ideológica e diminuir a disputa entre currículos ou atributos “pessoais”. Em teoria, o político não deve representar a si mesmo, como acontece hoje na grande maioria dos casos, mas ser o portador de idéias e valores com os quais concordo e defendo. O voto distrital, que num primeiro momento parece ser algo interessante, tem o grande risco de criar “currais eleitorais” e reduzir a política ao mero atendimento de demandas locais, o que é função das instâncias executivas da administração pública e não do deputado que se restringe a “brigar por uma ponte” ou coisa que o valha.

Bom, mas como o governo Dilma poderia atuar para incentivar tais reformas? De fato, essas mudanças são uma prerrogativa do Poder Legislativo. Mas até pelas características atuais do nosso modelo político, o Executivo poderia trabalhar para que a reforma política fosse acelerada, chamando atenção da sociedade para importância deste debate ou convencendo politicamente os líderes partidários, por exemplo. Não vejo iniciativas nesse sentido e, infelizmente, se esperarmos uma ação por parte da grande maioria dos 513 deputados federais, muitos dos quais beneficiados pelo sistema atual, nada vai acontecer.

Para finalizar, há outro aspecto importante no plano político e com margem de manobra bem maior para o Executivo atuar. Sei que essa é uma crítica que geralmente vem da “direta”, mas temos claramente um excesso no número dos chamados “cargos de confiança”, de livre provimento, na administração pública federal (e também nos Estados e municípios). Li recentemente que seriam, no âmbito da União, 22 mil cargos dessa natureza. Tudo bem que nossa tradição, desde os tempos de Colônia portuguesa, estimula a prática do “apadrinhamento”, mas é um exagero. É preciso aperfeiçoar e valorizar o funcionalismo via concursos públicos e bons salários (mais uma vez, problemas com os limites da política econômica). É do jogo político que a mudança de governo provoquem alterações nos Ministérios, assessores de primeiro ou segundo escalão e dirigentes de Estatais, mas que sejam centenas e não milhares de pessoas!

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Acho que estou mais crítico do que os 56% que consideram o governo ótimo ou bom e dos cerca de 70% que avaliam positivamente o desempenho da presidente, pela última pesquisa IBOPE. Isso não quer dizer, de maneira alguma, que vou embarcar na oposição, cuja moral para cobrar comportamento ético ou mesmo melhor performance administrativa é, para dizer o mínimo, bem baixa. Mas podemos fazer melhor, seja na Economia ou na Política. É louvável a diminuição do número de pessoas na condição de miseráveis nos últimos anos, mas não podemos acreditar no conto do “país de classe média” com dezenas de milhões numa situação de “pobreza assistida”, vivendo em condições precárias de moradia e sem acesso adequado à saúde, educação, saneamento, transportes.... 

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Dores crônicas e estratégias de jogo


Desde 2009, venho tendo dores crônicas no corpo. Quando tive a lesão medular, em 1995, já apareceu uma dor em forma de “agulhadas” na mão direita (que corresponde à altura do trauma na medula, na quinta vértebra cervical). De três anos para cá, porém, esta dor ganhou intensidade e se espalhou, chegando às costas, abdômen e, sobretudo, pernas e pés. O diagnóstico é de “dores neuropáticas”, originadas pelo sistema nervoso central e que, nessa forma mais aguda, se manifesta em cerca de 30% das pessoas com lesão medular.  

Ontem recebi a visita de uma amiga dos tempos de Escola Comunitária, a Laura Moryiama. Não nos encontramos com freqüência, mas é sempre legal quando isso ocorre. Obviamente, falamos das nossas vidas, do tempo da Escola, dos amigos e amigas, etc. Mas, como ela é médica especialista em neurologia, conversamos também sobre as dores. Em termos que eu pudesse entender, ela me explicou como o nosso cérebro, submetido ao processo de dor crônica, fica “programado” para, continuamente, seguir emitindo sinais e reproduzindo a sensação da dor.

As medicações convencionais nesses casos, de maneira geral, não têm um efeito positivo. Falamos da acupuntura, que já faço (com o pai dela, inclusive), e de outros tratamentos “alternativos” e/ou complementares. Estou novamente disposto a seguir este caminho, mas depois que ela foi embora fiquei pensando na explicação do “cérebro programado” e em alternativas imediatas para lidar com isso.

Curiosamente, percebi que já tenho algumas estratégias e, como nessas horas o nosso pensamento vai longe, acabei associando tais estratégias com esportes/jogos que eu gosto...pode? Bom, pode e acabou virando este texto aqui que compartilho com vocês falando do tênis, xadrez, truco e suas contribuições para amenizar as dores, no corpo e na alma.

Sou fã do Guga e tive o prazer de acompanhar sua carreira desde o primeiro título em Roland Garros, em 1997. Acabei gostando do esporte e continuo seguindo tênis até hoje. Assistindo a algumas entrevistas do Guga, e na verdade não só dele mas de todos grandes tenistas, aprendi como a parte mental do jogo é importante. Tecnicamente, todos os caras que estão entre os 20 ou 30 melhores do mundo jogam parecido (com exceção de um fora de série como Federer). A diferença entre eles, que define os que ganham os grandes torneios e ficam entre os 4, 5 melhores, está no controle emocional do jogo, na estratégia para se acalmar nos momentos decisivos, para ser agressivo quando é preciso se impor ao adversário. Já me peguei “jogando tênis de alto nível com minhas dores”, nem sempre consigo vencer, mas tenho me esforçado para controlá-las e melhorar meu aproveitamento.

É impressionante como jogar xadrez ocupa grande espaço no nosso cérebro. Existem até estudos de como a obsessão ao jogar configura-se numa doença. Claro que não quero chegar a esse ponto, mas jogar xadrez pela Internet tem sido, nos últimos anos, uma ótima alternativa para esquecer do mundo, das dores, dos problemas cotidianos. A Regina, minha esposa, até briga comigo de vez em quando, pois pareço criança quando perco mais do que ganho, reclamo comigo e até xingo os adversários! Mas o fato é que as dores, que estão sempre presentes, ficam esquecidas temporariamente.

Por fim, o jogo de truco, esta nobre arte. Costumo dizer que a contribuição mais relevante do primeiro ano de Faculdade, por minha culpa, foi aprimorar meu jogo de truco. Depois passei muitos anos sem praticar e mesmo atualmente não dá para jogar sempre, pois é preciso mais três pessoas (porque jogar em apenas dois é bem sem graça, coisa de iniciantes, e pela Internet, sem ter a possibilidade de encarar os adversários e interagir com seu parceiro, também é chato). Bom, mas quando jogo, a “válvula de escape” das dores é garantida, pois a diversão é grande. Além disso, a estratégia de blefar (útil também no pôquer, que jogo pela Internet), é interessante para enganar as dores, ou melhor, o cérebro.

Estão aí as relações entre as dores e os esportes/jogos que eu gosto ou pratico....sei que foi uma “tremenda viagem”....mas escrever textos assim também serve para interromper por um tempo o trabalho de um cérebro acostumado a transmitir dor.

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Ser Corinthians!

Meus amigos não-corintianos que me desculpem, mas essa valhe a pena:


Jean Carllos

Aconteceu em SP
Um menino de 6 anos chegou em casa e perguntou:

- Pai, para que time eu torço?
O pai imediatamente detectou o problema. Não ligava muito para futebol, nunca tinha conversado com o filho sobre o assunto. Percebeu que o menino tinha chegado a uma idade em que é obrigatório ser torcedor. Decidiu que se esforçaria para reparar o erro.
Prometeu ao filho que o levaria a jogos de todos os clubes grandes de São Paulo, para que o garoto tivesse todas as oportunidades para escolher seu time do coração. Fez a devida lição de casa. Aprendeu os fatos, os nomes, os momentos e lugares importantes na História de cada clube.
A primeira visita foi ao Morumbi, numa tarde de jogo do São Paulo. Chegaram cedo, passaram no Memorial, viram os troféus da Copa Libertadores, da Copa Intercontinental.
- Filho, o São Paulo é o mais bem sucedido clube brasileiro no cenário internacional. Ganhou a Libertadores 3 vezes, foi a Tóquio duas vezes para conquistar a Copa Intercontinental, também tem um Mundial de Clubes da Fifa. Além disso, foi o primeiro clube da cidade a ter o seu Centro de Treinamento. E claro, é o dono desse estádio, o Morumbi, o maior de São Paulo.
O jogo foi ótimo, o São Paulo venceu, o menino ficou impressionado com o tamanho e conforto do Morumbi.
- E aí, quer comprar uma camisa? – perguntou o pai.
- Ainda faltam três times, né? Prefiro esperar.
A segunda visita foi ao Palestra Itália. Passearam pela sede do clube. Viram os bustos de Ademir da Guia, de Junqueira, de Waldemar Fiúme. Também conheceram a sala de troféus. Sentaram-se nas numeradas do estádio do Palmeiras.
- Filho, esse time é diferente dos outros, por causa da conexão com a origem dos torcedores. O Palmeiras tem uma ligação sanguínea com a Itália, se chamava Palestra Itália. Claro, ninguém precisa ser italiano para torcer pelo Palmeiras, mas é bonito ver essa relação familiar com o time. Os palmeirenses são apaixonados por essa camisa. Grandes craques passaram por aqui ao longo dos tempos. Tanto que o time tem o apelido de “Academia”. – contou o pai.
O Palmeiras ganhou, o menino vibrou. Gostou do ambiente no Palestra, da proximidade do gramado.
- Vamos comprar a camisa? – o pai perguntou.
- Mas ainda faltam dois times…
Próxima parada, Vila Belmiro. No carro, indo para Santos, o pai começou a falar sobre as glórias do time.
- Meu filho, esse time que você vai conhecer hoje é um patrimônio do futebol. É o time em que jogou o Pelé, o maior jogador da História. Teve o melhor time de todos os tempos, no começo da década de 60, quando não havia adversário neste planeta que pudesse vencê-lo. Você vai ver a quantidade de taças que eles têm.
Visitaram o Memorial das Conquistas e sua impressionante coleção de troféus. As fotos do timaço que conquistou o mundo duas vezes, do Rei Pelé e de tantos e tantos jogadores lendários.
O Santos ganhou o jogo, o menino ficou empolgado. Na Vila, dá para ficar ainda mais perto do campo.
Na saída, a mesma pergunta.
- Vamos comprar a camisa?
- Calma pai, ainda tem um jogo para a gente ir, não tem?
E foram ao Pacaembu, num domingo à tarde. Não conseguiram sair cedo de casa, estavam um pouco atrasados. O pai foi falando sobre o Corinthians no carro.
- Filho, estamos indo ao Pacaembu, mas o Pacaembu não é o estádio do Corinthians. É da prefeitura, porque o Corinthians não possui um estádio próprio. Mas a torcida se sente muito bem lá. Outra coisa: o Corinthians é o único time de São Paulo que ainda não ganhou a Copa Libertadores. Mas tem um detalhe interessante: é a maior torcida de São Paulo, e a segunda maior do Brasil. É uma torcida tão apaixonada que é chamada de “Fiel”. Esta torcida ficou por mais de vinte anos sem ganhar um título sequer, no entanto, incrivelmente, foi exatamente neste período que a torcida mais cresceu.
Dificuldades para estacionar o carro, confusão na descida da escadaria, empurra-empurra, correria, etc... enfim chegaram em frente ao Pacaembú. Chegando próximo à bilheteria, viram um homem pardo, de chinelos de dedo, comprando seu ingresso com os últimos trocados de sua surrada carteira.

Por causa do atraso, pai e filho entraram no Pacaembu pelo portão principal, quase na hora em que o Corinthians subiu ao gramado. Sentaram-se apertadamente na escadaria da arquibancada de cimento por falta de espaço, e logo tiveram de se levantar, porque o time foi para o campo. A emoção da torcida ao ver o time subir a escadaria do vestiário deixou o menino impressionado...
De repente, o pai percebeu algo assustador. Seu filho estava arrepiado, respiração alterada, chorando de euforia, irriquieto, e ao mesmo tempo rindo sozinho, feliz como se tivesse ganho o maior dos presentes.
- O que aconteceu, meu filho?
- Não sei, pai.
- Por que você está chorando?
- Não sei…
- Quer ir embora?
- Não, quero ficar.
O jogo estava para começar quando o menino pegou o braço do pai.
- Pai, quero uma camisa.
- Como assim?
- Escolhi, pai.
- Mas o jogo ainda nem começou…
- Não importa !!! Eu sou corinthiano !!!

ENTENDEU?
SENTIU?
NÃO?
ENTÃO NÃO É...
SÓ QUEM É, PRA ENTENDER !!!

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Censo 2010 – Pessoas com Deficiência – Primeiros Resultados (3)


No texto anterior (link abaixo), argumentamos que uma projeção mais apurada da população com deficiência deveria considerar apenas aqueles que declaram “total” ou “grande” dificuldade visual, auditiva ou motora, além do contingente com deficiência intelectual. Não se trata de ignorar outras limitações funcionais menos severas, mas sim focalizar a discussão num universo de indivíduos que, dada a gravidade dessa limitação, provavelmente encontram barreiras maiores para sua plena inserção social.


Censo 2010 - Primeiros Resultados (2)

Trabalhando os dados do Censo de 2010, observou-se que aproximadamente 15,8 milhões de pessoas (8,3% da população) declararam-se com “grande” ou “total” incapacidade para enxergar, ouvir e/ou caminhar/subir escadas, além da deficiência mental/intelectual, com base nas definições no questionário censitário do IBGE. De que maneira esta população se distribui pelas Grandes Regiões e Estados brasileiros?

Para aqueles que tiverem interesse, possa enviar a tabela com os dados de todas as Unidades da Federação. Abaixo reproduza apenas os números encontrados no Estado de São Paulo:


Grau de Limitação Funcional
N. de Pessoas
% da Pop.



Não consegue enxergar de modo algum                              
151.842
0,4%
Grande dificuldade para enxergar
1.057.824
2,4%
Deficiência Visual
1.209.666
3,0%



Não consegue ouvir de modo algum                              
91.423
0,2%
Grande dificuldade para ouvir
345.604
0,8%
Deficiência Auditiva
437.027
1,0%



Não consegue caminhar ou subir escadas de modo algum
170.853
0,4%
Grande dificuldade para caminhar ou subir escadas
697.487
1,7%
Deficiência Motora
868.340
2,1%



Deficiência Intelectual/Mental
504.131
1,2%



Pelo menos uma das deficiências anteriores
3.019.164
7,3%
Nenhuma das deficiências anteriores
38.243.035
92,7%
População Total
41.262.199
100,0%

Fonte: IBGE, Censo 2010, Resultados Preliminares da Amostra.


Será preciso ainda, na análise da efetividade da “Lei de Cotas”, restringir o contingente observado numa faixa etária de “idade produtiva” (18 a 60 anos, por exemplo. Uma estimativa para este exercício – utilizada na tese de doutorado com base nos dados do IBGE – é de que 70% das pessoas que declaram deficiência severa estão em idade produtiva. Aplicando esse percentual, teríamos no Estado de São Paulo cerca de 2,2 milhões de pessoas (5,1% da população) com deficiência e em idade produtiva.

Como se vê, não é preciso “forçar o argumento” dizendo que são milhões e milhões de pessoas com deficiência fora do mercado de trabalho formal. O último dado que tenho disponível para o Estado de São Paulo, da RAIS 2008, revela existência de quase 112 mil vínculos empregatícios ocupados por pessoas com deficiência. Vamos ser otimistas – até porque em São Paulo existe uma forte mobilização em prol do cumprimento da “Lei de Cotas” – e supor que hoje existam 200 mil pessoas com deficiência trabalhando formalmente no Estado.  

Mesmo assim, ainda seriam cerca de 2 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho (estando estas pessoas em idade produtiva e tendo limitação funcional severa). Portanto, não encontram respaldo nos números do Censo o pleito de setores empresariais no sentido de que a lei seja flexibilizada porque não existem pessoas com deficiência. O percentual hoje utilizado – de 2% a 5% das vagas reservadas – parece bastante razoável e compatível com as informações extraídas do Censo de 2010.


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Observação importante:


Em contato com a amiga Izabel Maior, ex-Secretária Nacional dos Direitos das Pessoas com Deficiência, fui alertado sobre o problema da "dupla contagem" nos dados do Censo divulgados até agora. Ela tem razão, pois a soma dos registros de cada uma das deficiências e incapacidades resulta em 61,4 milhões de respostas. É evidente que um mesmo indivíduo declarou mais de um tipo de deficiência/incapacidade, pois o próprio IBGE divulgou que, contando apenas uma vez aqueles que declararam mais de uma deficiência, teríamos 45,6 milhões pessoas com deficiência no Brasil. É preciso, portanto, cautela com as informações divulgadas até agora, utilizando-se preferencialmente os dados de maneira isolada (não agregada). O acesso aos dados diretamente na base do IBGE, que poderá ser feito em 2012, deve dirimir essas dúvidas e trazer de modo mais claro as informações apuradas no Censo de 2010.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Corinthians Campeão Brasileiro: dessa vez, não!


O título de Campeão Brasileiro em 2005, conquistado pelo Corinthians seis anos atrás, foi o mais sem graça e desestimulante dos meus 30 anos de torcedor. O campeonato daquele ano ficou marcado negativamente pelo escândalo de arbitragem, com a anulação e repetição de algumas partidas. Num jogo decisivo, contra o Inter, houve um erro claro da arbitragem em favor do Corinthians, sem a marcação de um pênalti e ainda a expulsão por simulação do jogador gaúcho. E, ainda por cima, nossa Diretoria era comandada pela “máfia russa”, cuja administração nefasta ficou clara nos anos seguintes, culminando com o rebaixamento em 2007. Ganhamos, mas ficou um gosto amargo.

Dessa vez, em 2011, não! Embora continuem circulando “teorias conspiratórias” – e o jogo final contra o Palmeiras tenha sido meio chato – o Corinthians é o legítimo e justo campeão brasileiro. Reconheço até que a nossa “cartolagem” acaba dando motivos para tal tipo de teoria quando escolhe nomes como o de André Sanchez e Ronaldo para cargos diretivos na CBF antes do campeonato acabar. Mas o que vai além disso, a não ser que apareça uma “revelação bombástica”, é pura especulação por parte de setores da mídia e da grande maioria dos torcedores derrotados (vascaínos ou anti-corintianos em geral).

Uma análise fria mostrará que, de fato, o Vasco foi vítima de erros de arbitragem, mas isso também aconteceu com o Corinthians e, logicamente, com os outros times. Na média – e este é um pressuposto do campeonato de pontos corridos – os erros são diluídos. E ficar fazendo levantamento jogo a jogo dos erros já é, em si, um exercício subjetivo (pois alguns lances dão margem para uma ou outra interpretação). Relacionar diretamente os erros de arbitragem com as trapalhadas da “cartolagem” é leviandade. E se aqueles que afirmam categoricamente que houve manipulação, esquemas, etc., uma pergunta: porque continuaram assistindo aos jogos do Vasco até o final do campeonato? Ora, se já estava tudo arranjado...

Em síntese, é preciso evitar esse tipo de atitude porque seu maior pecado é tirar os méritos de quem mereceu vencer. E o time esforçado do Corinthians, sem brilhos individuais, com jogadores razoáveis e bons, mas todos aplicados, mereceu! Ficou entre os primeiros o campeonato inteiro, fez valer o mando de campo vencendo em casa, foi corajoso contra times menores fora de casa e até segurou o empate quando o vital era não perder (como nos jogos contra São Paulo e Palmeiras no segundo turno).

Concordo que o Santos é o melhor time brasileiro, mas mesmo a idéia de que ele não se interessou pelo campeonato brasileiro precisa ser relativizada. Em determinado momento, quando tinha jogos a menos, o Santos se aproximou dos líderes, mas não venceu estes jogos e, aí sim, passou a se concentrar no Mundial de Clubes. No mais, houve grande equilíbrio num campeonato com equipes de nível técnico razoável e parecido.

Dentre elas, desde o início, o Corinthians se destacou e soube aproveitar suas oportunidades. Fez um começo de campeonato arrasador, perdeu o ritmo, mas recuperou o fôlego na reta final, apoiado sempre por pelo menos 30 mil pessoas no Pacaembu. O gol do Adriano contra o Atlético-MG sintetiza o espírito dessa time. A morte do nosso grande ídolo Socrátes no dia da final torna, ao contrário de 2005, este título brasileiro inesquecível...e justo!  


sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

Censo 2010 – Pessoas com Deficiência – Primeiros Resultados (2)


Quantas pessoas com deficiência no Brasil poderiam estar no mercado de trabalho formal? Para responder a esta pergunta, não basta apenas reproduzir o número de pessoas com deficiência divulgado pelo IBGE. Em primeiro lugar, é preciso definir uma faixa etária que se aproxime de uma “idade produtiva”, digamos, de 18 a 60 anos de idade. Além disso, se objetivo da pergunta é avaliar a chamada “Lei de Cotas”, deve-se ter claro que os critérios para definição da deficiência na legislação não são os mesmos apurados pelo IBGE na pesquisa censitária sobre deficiência e limitações funcionais.

Quanto à faixa etária, ainda não é possível fazer o recorte da idade porque o IBGE só divulgou até agora os dados globais absolutos. Estes, porém, já permitem um exercício para aproximar as informações do IBGE do contingente de pessoas com deficiência que potencialmente poderiam fazer jus à “Lei de Cotas”. Tal instrumento de ação afirmativa baseia-se em critérios técnicos – definidos nos Decretos Federais 3.298/99 e 5.296/04 – para classificar os indivíduos nas deficiências física, auditiva, visual, intelectual ou múltipla.

A hipótese para este exercício, assim como fizemos na tese de doutorado com os dados do Censo de 2000, é excluir do universo de pessoas com deficiência aqueles que declararam apenas “alguma” dificuldade visual, auditiva ou motora. Restariam, então, as pessoas com “grande” ou “total” dificuldade funcional (e as pessoas com deficiência mental/intelectual). São estas que, muito provavelmente, enquadrar-se-iam nos critérios técnicos dos Decretos Federais supracitados, estando aptas a usufruir tanto da “Lei de Cotas” como das reservas de vagas em concursos públicos.


A tabela abaixo apresenta os dados do Censo de 2010 reorganizados dessa formas:

Grau de Dificuldade Declarado
N. Pessoas
%



Não consegue enxergar de modo algum                      
528.624
0,3
Grande dificuldade para enxergar
6.056.684
3,2
Deficiência Visual
6.585.308
3,5



Não consegue ouvir de modo algum                            
347.481
0,2
Grande dificuldade para ouvir
1.799.885
0,9
Deficiência Auditiva
2.147.366
1,1



Não consegue caminhar ou subir escadas de modo algum
740.456
0,4
Grande dificuldade para caminhar ou subir escadas
3.701.790
1,9
Deficiência Motora
4.442.246
2,3



Deficiência Intelectual/Mental
2.617.025
1,4



Pelo menos uma das deficiências anteriores
15.791.945
8,3
Nenhuma das deficiências anteriores
174.963.854
91,7
População Total
190.755.799
100,00
Fonte: Censo de 2010, IBGE. Resultados da Amostra.

A “Lei de Cotas”, assim como outros instrumentos de ação afirmativa, foi pensada para equipar oportunidades para pessoas com reais e efetivas dificuldades para inserção no mercado de trabalho. É difícil definir exatamente a fronteira entre aqueles que precisam deste tipo de política e outros que, mesmo com alguma dificuldade, têm plenas condições de conquistar normalmente oportunidades de trabalho. Entretanto, esse é um exercício necessário para que direitos legitimamente conquistados não se transformem em privilégios de determinados grupos.

Nesse sentido, ao falar sobre “Lei de Cotas” ou vagas em concursos públicos, nos parece mais realista e correto considerar um contingente de 15,8 milhões de pessoas, ou 8,3% da população (e não 45,6 milhões de indivíduos, dentre os quais a grande maioria apenas com “alguma” dificuldade funcional). Será preciso ainda restringir este contingente de 15,8 milhões por uma faixa etária que represente “idade produtiva”, além de evitar a dupla-contagem daqueles que declararam mais de uma “deficiência severa” (total ou grande incapacidade).

Por fim, é preciso dizer que essa tentativa de mensurar a população com deficiência de maneira mais apurada vale apenas como instrumento de balizamento das políticas públicas. Isso é importante para dimensionar os resultados da ação afirmativa ou estimar o contingente daqueles que precisam ter recursos diferenciados de educação, por exemplo. Em última instância, quando pensamos numa sociedade inclusiva, não importa se são 3, 5 ou 45 milhões de pessoas com deficiência, pois todos devem ter acesso aos direitos sociais fundamentais.