Quantas pessoas
com deficiência no Brasil poderiam estar no mercado de trabalho formal? Para
responder a esta pergunta, não basta apenas reproduzir o número de pessoas com
deficiência divulgado pelo IBGE. Em primeiro lugar, é preciso definir uma faixa
etária que se aproxime de uma “idade produtiva”, digamos, de 18 a 60 anos de
idade. Além disso, se objetivo da pergunta é avaliar a chamada “Lei de Cotas”,
deve-se ter claro que os critérios para definição da deficiência na legislação não
são os mesmos apurados pelo IBGE na pesquisa censitária sobre deficiência e
limitações funcionais.
Quanto à faixa
etária, ainda não é possível fazer o recorte da idade porque o IBGE só divulgou
até agora os dados globais absolutos. Estes, porém, já permitem um exercício
para aproximar as informações do IBGE do contingente de pessoas com
deficiência que potencialmente poderiam fazer jus à “Lei de Cotas”. Tal
instrumento de ação afirmativa baseia-se em critérios técnicos – definidos nos
Decretos Federais 3.298/99 e 5.296/04 – para classificar os indivíduos nas
deficiências física, auditiva, visual, intelectual ou múltipla.
A hipótese para
este exercício, assim como fizemos na tese de doutorado com os dados do Censo
de 2000, é excluir do universo de pessoas com deficiência aqueles que
declararam apenas “alguma” dificuldade visual, auditiva ou motora. Restariam,
então, as pessoas com “grande” ou “total” dificuldade funcional (e as pessoas com deficiência mental/intelectual). São estas que,
muito provavelmente, enquadrar-se-iam nos critérios técnicos dos Decretos
Federais supracitados, estando aptas a usufruir tanto da “Lei de Cotas” como
das reservas de vagas em concursos públicos.
A tabela abaixo
apresenta os dados do Censo de 2010 reorganizados dessa formas:
Grau de Dificuldade Declarado
|
N. Pessoas
|
%
|
|
|
|
Não consegue
enxergar de modo algum
|
528.624
|
0,3
|
Grande dificuldade
para enxergar
|
6.056.684
|
3,2
|
Deficiência Visual
|
6.585.308
|
3,5
|
|
|
|
Não consegue ouvir
de modo algum
|
347.481
|
0,2
|
Grande dificuldade
para ouvir
|
1.799.885
|
0,9
|
Deficiência Auditiva
|
2.147.366
|
1,1
|
|
|
|
Não consegue
caminhar ou subir escadas de modo algum
|
740.456
|
0,4
|
Grande dificuldade
para caminhar ou subir escadas
|
3.701.790
|
1,9
|
Deficiência Motora
|
4.442.246
|
2,3
|
|
|
|
Deficiência Intelectual/Mental
|
2.617.025
|
1,4
|
|
|
|
Pelo menos uma das deficiências
anteriores
|
15.791.945
|
8,3
|
Nenhuma
das deficiências anteriores
|
174.963.854
|
91,7
|
População Total
|
190.755.799
|
100,00
|
Fonte: Censo de
2010, IBGE. Resultados da Amostra.
A “Lei de Cotas”,
assim como outros instrumentos de ação afirmativa, foi pensada para equipar
oportunidades para pessoas com reais e efetivas dificuldades para inserção no
mercado de trabalho. É difícil definir exatamente a fronteira entre aqueles que
precisam deste tipo de política e outros que, mesmo com alguma dificuldade, têm
plenas condições de conquistar normalmente oportunidades de trabalho.
Entretanto, esse é um exercício necessário para que direitos legitimamente
conquistados não se transformem em privilégios de determinados grupos.
Nesse sentido, ao
falar sobre “Lei de Cotas” ou vagas em concursos públicos, nos parece mais
realista e correto considerar um contingente de 15,8 milhões de pessoas, ou
8,3% da população (e não 45,6 milhões de indivíduos, dentre os quais a grande
maioria apenas com “alguma” dificuldade funcional). Será preciso ainda
restringir este contingente de 15,8 milhões por uma faixa etária que represente
“idade produtiva”, além de evitar a dupla-contagem daqueles que declararam mais
de uma “deficiência severa” (total ou grande incapacidade).
Por fim, é
preciso dizer que essa tentativa de mensurar a população com deficiência de
maneira mais apurada vale apenas como instrumento de balizamento das políticas
públicas. Isso é importante para dimensionar os resultados da ação afirmativa
ou estimar o contingente daqueles que precisam ter recursos diferenciados de
educação, por exemplo. Em última instância, quando pensamos numa sociedade
inclusiva, não importa se são 3, 5 ou 45 milhões de pessoas com deficiência,
pois todos devem ter acesso aos direitos sociais fundamentais.
Olá Vinicius, gostei bastante do seu blog. Tenho estudado a inclusão de alunos com deficiência no EM e buscado aprender a mexer nos dados do censo. Se você pudesse me adc no msn (paulinha_all@hotmail.com) para conversarmos sobre a temática seria muito interessante. Abraços, Paula.
ResponderExcluirOlá Paula, obrigado pela leitura do blog e continuamos em contato!
ResponderExcluirAbraços,
Vinicius.