Desde 2009, venho tendo
dores crônicas no corpo. Quando tive a lesão medular, em 1995, já apareceu uma
dor em forma de “agulhadas” na mão direita (que corresponde à altura do trauma
na medula, na quinta vértebra cervical). De três anos para cá, porém, esta dor
ganhou intensidade e se espalhou, chegando às costas, abdômen e, sobretudo,
pernas e pés. O diagnóstico é de “dores neuropáticas”, originadas pelo sistema
nervoso central e que, nessa forma mais aguda, se manifesta em cerca de 30% das pessoas
com lesão medular.
Ontem recebi a visita de uma
amiga dos tempos de Escola Comunitária, a Laura Moryiama. Não nos encontramos
com freqüência, mas é sempre legal quando isso ocorre. Obviamente, falamos
das nossas vidas, do tempo da Escola, dos amigos e amigas, etc. Mas, como ela é
médica especialista em neurologia, conversamos também sobre as dores. Em termos
que eu pudesse entender, ela me explicou como o nosso cérebro, submetido ao
processo de dor crônica, fica “programado” para, continuamente, seguir emitindo
sinais e reproduzindo a sensação da dor.
As medicações convencionais nesses casos, de maneira geral, não têm um efeito positivo. Falamos da
acupuntura, que já faço (com o pai dela, inclusive), e de outros tratamentos “alternativos”
e/ou complementares. Estou novamente disposto a seguir este caminho, mas depois
que ela foi embora fiquei pensando na explicação do “cérebro programado” e em
alternativas imediatas para lidar com isso.
Curiosamente, percebi que já
tenho algumas estratégias e, como nessas horas o nosso pensamento vai longe,
acabei associando tais estratégias com esportes/jogos que eu gosto...pode? Bom,
pode e acabou virando este texto aqui que compartilho com vocês falando
do tênis, xadrez, truco e suas contribuições para amenizar as dores, no corpo
e na alma.
Sou fã do Guga e tive o
prazer de acompanhar sua carreira desde o primeiro título em Roland Garros, em
1997. Acabei gostando do esporte e continuo seguindo tênis até hoje. Assistindo
a algumas entrevistas do Guga, e na verdade não só dele mas de todos grandes
tenistas, aprendi como a parte mental do jogo é importante. Tecnicamente, todos
os caras que estão entre os 20 ou 30 melhores do mundo jogam parecido (com exceção
de um fora de série como Federer). A diferença entre eles, que define os
que ganham os grandes torneios e ficam entre os 4, 5 melhores, está no controle
emocional do jogo, na estratégia para se acalmar nos momentos decisivos, para
ser agressivo quando é preciso se impor ao adversário. Já me peguei “jogando tênis
de alto nível com minhas dores”, nem sempre consigo vencer, mas tenho me
esforçado para controlá-las e melhorar meu aproveitamento.
É impressionante como jogar
xadrez ocupa grande espaço no nosso cérebro. Existem até estudos de como a obsessão
ao jogar configura-se numa doença. Claro que não quero chegar a esse ponto, mas
jogar xadrez pela Internet tem sido, nos últimos anos, uma ótima alternativa
para esquecer do mundo, das dores, dos problemas cotidianos. A Regina, minha
esposa, até briga comigo de vez em quando, pois pareço criança quando perco mais
do que ganho, reclamo comigo e até xingo os adversários! Mas o fato é que as
dores, que estão sempre presentes, ficam esquecidas temporariamente.
Por fim, o jogo de truco,
esta nobre arte. Costumo dizer que a contribuição mais relevante do primeiro
ano de Faculdade, por minha culpa, foi aprimorar meu jogo de truco. Depois
passei muitos anos sem praticar e mesmo atualmente não dá para jogar sempre,
pois é preciso mais três pessoas (porque jogar em apenas dois é bem sem
graça, coisa de iniciantes, e pela Internet, sem ter a possibilidade de encarar
os adversários e interagir com seu parceiro, também é chato). Bom, mas quando
jogo, a “válvula de escape” das dores é garantida, pois a diversão é grande.
Além disso, a estratégia de blefar (útil também no pôquer, que jogo pela
Internet), é interessante para enganar as dores, ou melhor, o cérebro.
Estão aí as relações entre
as dores e os esportes/jogos que eu gosto ou pratico....sei que foi uma “tremenda
viagem”....mas escrever textos assim também serve para interromper por um tempo
o trabalho de um cérebro acostumado a transmitir dor.
Tremenda viagem de um grande cérebro, que sabe usar a inteligência emocional a seu favor!
ResponderExcluirBeijos da prima :)
Caro Vinicius
ResponderExcluirFantástico seu texto! Voce tá aprendendo na prática algo muito importante e que é real.
Acho que voce precisa Treinar e desenvolver a MENTE!!! Conheço um curso de Treinamento e Desenvolvimento Mental.
Se aparecer em voce algum interesse me avise.
Em Janeiro teremos um aqui em Campinas.
Parabéns pelas estratégias, voce está no caminho certo!!!!
Grande abraço e Boas Festas!
Janete
Querida Flavinha, muito obrigado! Beijos do seu primo e será ótimo encontrar contigo nesses dias!
ResponderExcluirPrezada Janete, agradeço pela mensagem! De fato, às vezes, ou quase sempre, a gente aprende coisas na prática e depois descobre que existe uma teoria sobre isso. Tenho interesse no curso que você mencionou. Vamos manter contato. Grande abraço e tudo bom também para você e família!
ResponderExcluir---------- Mensagem encaminhada ----------
ResponderExcluirDe: Vinicius Garcia
Data: 16 de dezembro de 2011 15:22
Assunto: Re: novo texto
Para: Eurico Duarte
Fala Euricão!
Valeu cara! É verdade, é preciso ter cuidado mesmo para as estratégias de enfrentamento não se transformarem em "auto-engano". Concordo contigo, a vivência de cada um, os erros e acertos, as alegrias e as frustrações vão nos dando pistas de como agir.
Agradeço pelo acompanhamento e difusão do blog!
Grande abraço e energias positivas renovadas para você e família em 2012!
Em 16 de dezembro de 2011 10:12, Eurico Duarte escreveu:
Fala Vini,
Muito interessante o seu texto e as associações que vc fez.
O importante é que vc usa estas estrategias de forma consciente, portanto não se trata de um "auto-engano".
Acho que, na verdade, todos nós temos nossas estrategias para lidar com as coisas da vida, cada um a seu tempo e modo.
No mais, continue escrevendo que estamos aqui lhe acompanhando.
Forte abraço e um bom final de ano para vc e toda família.
Eurico.
---------- Mensagem encaminhada ----------
ResponderExcluirDe: Vinicius Garcia
Data: 16 de dezembro de 2011 15:27
Assunto: Re: novo texto
Para: Daniel Höfling
Valeu Dani!
Nossa, eu lembro muito também! Foram até mais de um, mas tenho o troféu de um deles guardado...meu parceiro era o "Tênia" (Daniel)...nunca mais tive notícias dele...
Vamos jogar sim...aqui em casa, além de mim, o Anderson, meu ajudante, também joga...além do meu pai, e até minha mãe aprendeu! Vamos marcar um dia...
Abração
Em 16 de dezembro de 2011 11:11, Daniel Höfling escreveu:
Guerreiro,
muito massa o texto. lembrei do campeonato de truco no primeiro ano da faculdade...
vamos jogar um dia?
abs
Daniel de Mattos Höfling
Grande Vinicius!
ResponderExcluirCara acho que o texto é uma grande verdade, vez que sou uma vítima da tal chamada dor neuropática, sinto uma queimação infernal nas pernas e parece que cada ano piora mais.kkkkk. Remédios me deixam goiaba e não resolve o problema e exatamente o que vem de encontro com seu texto: a única coisa que tira totalmente a dor é quando estou voando, é incrível, quando começo a me equipar e direcionar toda minha atenção para o que estou fazendo, a adrenalina começa a bater, não sinto mais nenhuma dor. Como o vôo dura em torno de uma a duas horas mais seus preparativos de 30 minutos antes e 30 minutos depois acabo por ficar sem dor umas duas a tres horas por dia que pratico voo. Preciso aprender a utilizar essa técnica em outras coisas também. Um Grande Abraço e saudades amigo. Augusto Toledo
Então quer dizer que você blefa no truco hein seu ladrão. Pode esperar que te pego na próxima curva.
ResponderExcluirHEEHEHE...a questão é quando blefo....
ResponderExcluirCaro Augusto, saudades também!
ResponderExcluirPois é, estamos no mesmo clube então, chumbados e doloridos! Legal a história do vôo! Como vocês falou, acho que o prazer e a adrenalina inibem a dor...não deixa de ser uma bela estratégia também! Grande abraço e vamos nos encontrar em 2012.