sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Dores crônicas e estratégias de jogo


Desde 2009, venho tendo dores crônicas no corpo. Quando tive a lesão medular, em 1995, já apareceu uma dor em forma de “agulhadas” na mão direita (que corresponde à altura do trauma na medula, na quinta vértebra cervical). De três anos para cá, porém, esta dor ganhou intensidade e se espalhou, chegando às costas, abdômen e, sobretudo, pernas e pés. O diagnóstico é de “dores neuropáticas”, originadas pelo sistema nervoso central e que, nessa forma mais aguda, se manifesta em cerca de 30% das pessoas com lesão medular.  

Ontem recebi a visita de uma amiga dos tempos de Escola Comunitária, a Laura Moryiama. Não nos encontramos com freqüência, mas é sempre legal quando isso ocorre. Obviamente, falamos das nossas vidas, do tempo da Escola, dos amigos e amigas, etc. Mas, como ela é médica especialista em neurologia, conversamos também sobre as dores. Em termos que eu pudesse entender, ela me explicou como o nosso cérebro, submetido ao processo de dor crônica, fica “programado” para, continuamente, seguir emitindo sinais e reproduzindo a sensação da dor.

As medicações convencionais nesses casos, de maneira geral, não têm um efeito positivo. Falamos da acupuntura, que já faço (com o pai dela, inclusive), e de outros tratamentos “alternativos” e/ou complementares. Estou novamente disposto a seguir este caminho, mas depois que ela foi embora fiquei pensando na explicação do “cérebro programado” e em alternativas imediatas para lidar com isso.

Curiosamente, percebi que já tenho algumas estratégias e, como nessas horas o nosso pensamento vai longe, acabei associando tais estratégias com esportes/jogos que eu gosto...pode? Bom, pode e acabou virando este texto aqui que compartilho com vocês falando do tênis, xadrez, truco e suas contribuições para amenizar as dores, no corpo e na alma.

Sou fã do Guga e tive o prazer de acompanhar sua carreira desde o primeiro título em Roland Garros, em 1997. Acabei gostando do esporte e continuo seguindo tênis até hoje. Assistindo a algumas entrevistas do Guga, e na verdade não só dele mas de todos grandes tenistas, aprendi como a parte mental do jogo é importante. Tecnicamente, todos os caras que estão entre os 20 ou 30 melhores do mundo jogam parecido (com exceção de um fora de série como Federer). A diferença entre eles, que define os que ganham os grandes torneios e ficam entre os 4, 5 melhores, está no controle emocional do jogo, na estratégia para se acalmar nos momentos decisivos, para ser agressivo quando é preciso se impor ao adversário. Já me peguei “jogando tênis de alto nível com minhas dores”, nem sempre consigo vencer, mas tenho me esforçado para controlá-las e melhorar meu aproveitamento.

É impressionante como jogar xadrez ocupa grande espaço no nosso cérebro. Existem até estudos de como a obsessão ao jogar configura-se numa doença. Claro que não quero chegar a esse ponto, mas jogar xadrez pela Internet tem sido, nos últimos anos, uma ótima alternativa para esquecer do mundo, das dores, dos problemas cotidianos. A Regina, minha esposa, até briga comigo de vez em quando, pois pareço criança quando perco mais do que ganho, reclamo comigo e até xingo os adversários! Mas o fato é que as dores, que estão sempre presentes, ficam esquecidas temporariamente.

Por fim, o jogo de truco, esta nobre arte. Costumo dizer que a contribuição mais relevante do primeiro ano de Faculdade, por minha culpa, foi aprimorar meu jogo de truco. Depois passei muitos anos sem praticar e mesmo atualmente não dá para jogar sempre, pois é preciso mais três pessoas (porque jogar em apenas dois é bem sem graça, coisa de iniciantes, e pela Internet, sem ter a possibilidade de encarar os adversários e interagir com seu parceiro, também é chato). Bom, mas quando jogo, a “válvula de escape” das dores é garantida, pois a diversão é grande. Além disso, a estratégia de blefar (útil também no pôquer, que jogo pela Internet), é interessante para enganar as dores, ou melhor, o cérebro.

Estão aí as relações entre as dores e os esportes/jogos que eu gosto ou pratico....sei que foi uma “tremenda viagem”....mas escrever textos assim também serve para interromper por um tempo o trabalho de um cérebro acostumado a transmitir dor.

10 comentários:

  1. Tremenda viagem de um grande cérebro, que sabe usar a inteligência emocional a seu favor!
    Beijos da prima :)

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  2. Caro Vinicius

    Fantástico seu texto! Voce tá aprendendo na prática algo muito importante e que é real.
    Acho que voce precisa Treinar e desenvolver a MENTE!!! Conheço um curso de Treinamento e Desenvolvimento Mental.
    Se aparecer em voce algum interesse me avise.
    Em Janeiro teremos um aqui em Campinas.
    Parabéns pelas estratégias, voce está no caminho certo!!!!
    Grande abraço e Boas Festas!
    Janete

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  3. Querida Flavinha, muito obrigado! Beijos do seu primo e será ótimo encontrar contigo nesses dias!

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  4. Prezada Janete, agradeço pela mensagem! De fato, às vezes, ou quase sempre, a gente aprende coisas na prática e depois descobre que existe uma teoria sobre isso. Tenho interesse no curso que você mencionou. Vamos manter contato. Grande abraço e tudo bom também para você e família!

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  5. ---------- Mensagem encaminhada ----------
    De: Vinicius Garcia
    Data: 16 de dezembro de 2011 15:22
    Assunto: Re: novo texto
    Para: Eurico Duarte


    Fala Euricão!

    Valeu cara! É verdade, é preciso ter cuidado mesmo para as estratégias de enfrentamento não se transformarem em "auto-engano". Concordo contigo, a vivência de cada um, os erros e acertos, as alegrias e as frustrações vão nos dando pistas de como agir.

    Agradeço pelo acompanhamento e difusão do blog!

    Grande abraço e energias positivas renovadas para você e família em 2012!

    Em 16 de dezembro de 2011 10:12, Eurico Duarte escreveu:

    Fala Vini,

    Muito interessante o seu texto e as associações que vc fez.
    O importante é que vc usa estas estrategias de forma consciente, portanto não se trata de um "auto-engano".
    Acho que, na verdade, todos nós temos nossas estrategias para lidar com as coisas da vida, cada um a seu tempo e modo.

    No mais, continue escrevendo que estamos aqui lhe acompanhando.

    Forte abraço e um bom final de ano para vc e toda família.
    Eurico.

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  6. ---------- Mensagem encaminhada ----------
    De: Vinicius Garcia
    Data: 16 de dezembro de 2011 15:27
    Assunto: Re: novo texto
    Para: Daniel Höfling


    Valeu Dani!

    Nossa, eu lembro muito também! Foram até mais de um, mas tenho o troféu de um deles guardado...meu parceiro era o "Tênia" (Daniel)...nunca mais tive notícias dele...

    Vamos jogar sim...aqui em casa, além de mim, o Anderson, meu ajudante, também joga...além do meu pai, e até minha mãe aprendeu! Vamos marcar um dia...

    Abração

    Em 16 de dezembro de 2011 11:11, Daniel Höfling escreveu:

    Guerreiro,
    muito massa o texto. lembrei do campeonato de truco no primeiro ano da faculdade...
    vamos jogar um dia?
    abs


    Daniel de Mattos Höfling

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  7. Grande Vinicius!

    Cara acho que o texto é uma grande verdade, vez que sou uma vítima da tal chamada dor neuropática, sinto uma queimação infernal nas pernas e parece que cada ano piora mais.kkkkk. Remédios me deixam goiaba e não resolve o problema e exatamente o que vem de encontro com seu texto: a única coisa que tira totalmente a dor é quando estou voando, é incrível, quando começo a me equipar e direcionar toda minha atenção para o que estou fazendo, a adrenalina começa a bater, não sinto mais nenhuma dor. Como o vôo dura em torno de uma a duas horas mais seus preparativos de 30 minutos antes e 30 minutos depois acabo por ficar sem dor umas duas a tres horas por dia que pratico voo. Preciso aprender a utilizar essa técnica em outras coisas também. Um Grande Abraço e saudades amigo. Augusto Toledo

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  8. Então quer dizer que você blefa no truco hein seu ladrão. Pode esperar que te pego na próxima curva.

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  9. HEEHEHE...a questão é quando blefo....

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  10. Caro Augusto, saudades também!
    Pois é, estamos no mesmo clube então, chumbados e doloridos! Legal a história do vôo! Como vocês falou, acho que o prazer e a adrenalina inibem a dor...não deixa de ser uma bela estratégia também! Grande abraço e vamos nos encontrar em 2012.

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