Essa foi uma dica do amigo Enídio, médico e futuro Doutor em Psicologia. Tomara que a moçada que está fazendo o ENEM, e entrou aqui no blog esses dias para ler o texto sobre a Copa do Mundo, possa ouvir Eduardo Galeano....
"O Direito ao Delírio"
https://www.youtube.com/watch?v=m-pgHlB8QdQ&feature=player_embedded
domingo, 23 de outubro de 2011
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Considerações Finais - Mestrado
Quando decidi
fazer a pós-graduação, me preocupei em escolher temas que pudessem, de alguma
forma, contribuir para discussão de questões nacionais ligadas à cidadania e à justiça
social. Sem ter a pretensão de formular grandes tratados ou produzir algo novo,
busquei apenas refletir sobre assuntos com os quais já estava envolvido, no
intuito de colaborar para que, na prática e não no isolamento da Academia,
estes temas fossem aprofundados (sugerindo, inclusive, aperfeiçoamentos nas
políticas públicas a eles relacionadas).
Ocorre que a
leitura na íntegra de uma dissertação de mestrado ou tese de doutorado não é
algo necessariamente agradável, pois é cansativa e cheia de retoques
acadêmicos. Nesse sentido, pensei em divulgar aqui no blog apenas as “considerações
finais” da minha dissertação de mestrado (sobre questões de raça e gênero na
desigualdade social brasileira) e da tese de doutorado (sobre a inclusão de
pessoas com deficiência no mercado de trabalho).
Tal decisão foi
reforçada por um fato curioso que ocorreu aqui no blog: até bem pouco tempo
atrás, o texto mais lido era sobre os 20 anos da Lei de Cotas, no link abaixo,
com 182 acessos. O que era natural, pois boa parte das pessoas para as quais eu
mando mensagens sobre atualização do blog são dessa área. Pois bem, semana
passada tomei um susto quando vi que o texto sobre a Copa do Mundo e
Olimpíadas, também no link abaixo, que escrevi em Maio, tinha tido 1.434
acessos! Fui tentar descobrir de onde vinham esses acessos e, ao que parece, o
texto foi reproduzido em algum site de Educação voltado para alunos que vão
fazer o ENEM. Como se imagina que Copa do Mundo e Olimpíadas no Brasil pode ser
o tema da redação do ENEM neste ano, os acessos explodiram.
Enfim,
conhecimento é para ser compartilhado e a Internet, apesar dos problemas e do
seu mau-uso, nos permite isso. Segue então a reprodução das conclusões da
dissertação de mestrado, defendida em 2005 (nos próximos dias, mando da tese de
doutorado, concluída em 2010).
“20 Anos da Lei de Cotas”
“Copa do Mundo e Olimpíadas “
Considerações
Finais – Mestrado
Ao
longo do primeiro capítulo, buscamos apresentar uma visão geral do processo
histórico nacional no que se refere às formas de exclusão da população negra. A
evidente exploração dos negros durante o período de escravidão, ao mesmo tempo
em que manteve boa parte dessa população nas áreas menos desenvolvidas do país,
disseminou um sentimento racista e preconceituoso na sociedade brasileira,
simbolizado pela política imigratória. Em outras palavras, a escravidão, de um lado,
impôs limites objetivos para inserção social adequada da população negra e, de
outro, criou uma cultura discriminatória que dificultou muito esta inserção
mesmo depois da abolição da escravatura.
Tivemos
como referências fundamentais dois autores clássicos que se preocuparam com a
temática racial: Florestan Fernandes e Carlos Hasembalg. O primeiro fez um
estudo minucioso acerca das possibilidades de integração dos negros na
“sociedade de classes” que ia se formando com o fim da escravidão e a passagem para
o trabalho assalariado no Estado de São de Paulo. Suas conclusões foram
decisivas para desfazer a idéia de “democracia racial” no país, pois esse autor
constatou as enormes dificuldades e as condições precárias em que viviam os
negros na primeira metade do século XX, décadas depois do fim da escravidão.
Fernandes consolidou o chamado “mito da democracia racial”, contrariando uma
visão segundo a qual o Brasil constituía-se num exemplo de relações raciais
harmônicas.
Carlos
Hasembalg, por sua vez, demonstrou que as disparidades raciais permanecem mesmo
com o avanço da industrialização e o crescimento econômico, observados no país
nas décadas de 50, 60 e 70 do século passado. Esse autor trabalhou com dados
para o conjunto do país, destacando que, depois da fase de maior expansão da
economia brasileira, em meados da década de 70, os negros continuavam
concentrados nas regiões mais pobres do país, tendo dificuldades para melhorar
sua qualificação e obter ocupações mais bem remuneradas. As diferenças permaneciam
tanto nas regiões Norte-Nordeste como no Sul-Sudeste, mostrando que, para além
das particularidades regionais (que determinam o resultado nacional),
permaneciam práticas discriminatórias em relação à população negra.
Durante
praticamente os últimos vinte e cinco anos, a partir do início dos 80, o país
"perdeu o rumo" do crescimento econômico, enfrentando um prolongado
ciclo de semi-estagnação da economia, com expansão próxima àquela que se
observa para o crescimento populacional. É verdade que, do ponto de vista
político, o país avançou com a redemocratização e a volta de eleições diretas e
livres, mas, infelizmente, essa conquista não se converteu em ganhos sociais
efetivos para a maior parte da população. Pelo contrário, quando consideramos
indicadores como o nível de emprego e remuneração dos trabalhadores, ou os
índices de violência, pode-se dizer que houve regressão, configurando um quadro
de crise social aguda.
Nesse
sentido, durante o capítulo 2 buscamos traçar um panorama acerca da economia
brasileira, mostrando que, em diferentes contextos, o país não logrou alcançar
uma fase duradoura de crescimento, na extensão e magnitude necessárias para o
enfrentamento da grave crise social acima mencionada, cuja outra face marcante
é a má qualidade dos serviços públicos básicos (saneamento básico, habitação,
transporte, educação e saúde). Ao final do capítulo 2, com base em autores
contemporâneos, não foi surpresa constatar a permanência das disparidades
raciais, em particular a situação crítica das mulheres negras, segmento que
acumula um histórico de discriminações ligadas à raça e ao sexo.
Diante
desse quadro, isto é, um contexto histórico de dificuldades para a população
negra e uma conjuntura recente de crise econômica e social, a aplicação da
metodologia do prof. Waldir Quadros, realizada no capítulo 3, só poderia
confirmar a manutenção de grandes disparidades, dividindo o país em diferentes
realidades de acordo com a raça e o sexo das pessoas. A estrutura
sócio-ocupacional familiar revelou, quando se compara o início dos 80 com os
dados mais recentes de 2003, uma piora global e “por dentro”. No agregado, os
padrões de vida familiares de classe média perderam espaço relativo, com
expansão das faixas de pobreza e indigência. Ao detalhar tais mudanças, observou-se
a queda de rendimento dos grupos familiares de classe média. As diferenças
raciais se mostraram mais fortes nas camadas associadas a um padrão de vida de
classe média, de um lado, e nas faixas de pobreza e indigência, de outro,
havendo um grau bem menor de diferenciação nas famílias da massa trabalhadora.
A
estrutura ocupacional individual, além da reprodução dessas disparidades
raciais nos estratos extremos, mostrou um estoque elevado de ocupados nas
camadas inferior (massa trabalhadora) e ínfima (marginalizados), além a perda
de rendimentos no geral dos ocupados, com manutenção da pirâmide: homens
brancos, mulheres brancas, homens negros e mulheres negras.
Dessa
forma, a partir da estrutura ocupacional foi possível realizar uma aproximação
à estrutura social, seja no plano familiar ou individual, reiterando as
diferenças em termos de ocupações típicas e rendimentos entre as populações
brancas e negras no Brasil. Nesse sentido, acreditamos ter alcançado o objetivo
inicial de contribuir na caracterização das condições de vida da população
negra no Brasil no período recente, incluindo o sexo como fator relevante nessa
discussão.
A
desigualdade social brasileira continua muito forte, sendo a questão racial uma
importante dimensão desse processo. O que fazer diante desse quadro? Esse
trabalho teve um caráter retrospectivo e seria necessário outro estudo
aprofundado para tentar responder essa questão. De qualquer forma, é possível
imaginar que o cenário ideal para reverter as disparidades raciais incluiria
tanto a retomada do crescimento econômico como a implementação de políticas
diferenciadas, voltadas especificamente para as reivindicações do movimento
negro.
Ao
longo dessa dissertação, não tivemos a oportunidade de estudar e ouvir os
protagonistas desse movimento, que tem realizado um intenso trabalho de
mobilização política. Mesmo assim, a apresentação do contexto histórico e dos
dados mais recentes não deixam dúvidas quanto à legitimidade para, no mínimo,
se discutir a adoção das "políticas afirmativas". É verdade que, de
certa forma, elas atacam as conseqüências e não as causas da exclusão social,
que somente poderá ser combatida com um robusto processo de crescimento
econômico, gerando emprego, renda e possibilidades maiores de investimento
público, numa perspectiva distinta de política econômica, que priorize de fato
a questão social. Porém, parece-nos inaceitável simplesmente interditar e
desqualificar o debate acerca das "políticas afirmativas", como faz
boa parte da mídia e da intelectualidade, num comportamento análogo àquele
relacionado à mudança da política econômica.
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Contas para ser Campeão Brasileiro
Depois dos resultados do fim
de semana, como dizem, o Corinthians “depende só das suas próprias forças” para
conquistar o seu quinto Campeonato Brasileiro. Nesse texto vou fazer uma breve
projeção do desempenho necessário nos últimos 10 jogos para chegar ao penta. A
princípio, o texto só interessaria aos corintianos, mas dada a nossa torcida
contra....
Bom, dos 10 jogos que faltam, cinco são
no Pacaembu: Botafogo, Avaí, Atlético-PR, Atlético-MG e Palmeiras. Os cinco
jogos fora de casa são contra: Cruzeiro, Internacional, América-MG, Ceará e
Figueirense. Qual a pontuação necessária para o título? É claro que não há 100%
de certeza, mas um bom parâmetro pode ser os percentuais obtidos pelos últimos
dois campeões brasileiros em 2010 e 2009, em campeonatos bastante equilibrados,
como o atual.
No ano passado, o Fluminense
foi campeão com 71 pontos (62% de aproveitamento); em 2009, o Flamengo
conquistou o título com apenas 67 pontos (59% de aproveitamento). Para
arredondar e puxar um pouquinho para cima, vamos fechar em 70 pontos para ser
campeão em 2011 (dá 61,4%, bem próximo do aproveitamento que o Timão tem
hoje). Partindo dos atuais 51, faltariam então 19 pontos para o título.
Para conquistar 19 pontos em
10 jogos, existe mais de uma possibilidade, como: 5 vitórias, 4 empates e 1
derrota; ou 6 vitórias, 1 empate e 3 derrotas. Como o time do Corinthians, assim
como os demais, é instável, vamos considerar este segundo cenário e dizer o
seguinte: temos que vencer, em casa, Avaí, Atlético-PR e Atlético-MG (times que
estão na zona de rebaixamento, o que pode ser perigoso, mas é preciso ganhar);
e também vencer, fora de casa, América-MG, Ceará e Figueirense. Feito isso,
apenas um empate nos outros quatros jogos (Botafogo, Palmeiras, Cruzeiro e
Inter), teoricamente mais difíceis, nos daria o título. Aliás, esse empate
teria que ser com o Botafogo para mantê-lo ainda atrás da gente na tabela.
É mera especulação e tudo
pode ser diferente, dependendo, naturalmente, do desempenho dos rivais, mas
essas seis vitórias (18 pontos) se não nos garantem o título nos deixam bem
perto dele. Quanto aos rivais, algumas observações são importantes: São Paulo,
Vasco e Botafogo disputam paralelamente a Copa Sul-Americana, o que gera algum
desgaste no elenco. Outra coisa: existem confrontos diretos entre eles: Vasco x
São Paulo na rodada 32 e Vasco x Botafogo na rodada 34, ou seja, um vai tirar
pontos do outro. E, finalmente, a tabela que cada um deles tem (de novo, na
teoria) é mais complicada do que a do Corinthians, com mais confrontos entre
times de maior tradição e/ou clássicos regionais. Flamengo e Fluminense também
têm chances de título, mas o primeiro disputa a Sul-Americana e o
Fluminense dependeria de uma arrancada fenomenal para chegar.
Em suma, e voltando ao
começo: dependemos só de nóis, mano! Vamô
Curíntia!
terça-feira, 4 de outubro de 2011
Vídeos Contemporâneos - Crise Econômica e Social
Na semana passada, assisti a
uma palestra do professor da Facamp Alessandro Ortuso (no meu tempo ele era só
o “Ervilha”) sobre a crise econômica atual e suas repercussões sociais. Ele
apresentou dois vídeos que eu já havia assistido, mas decidi reproduzir aqui no
blog para compartilhar com vocês pelo alto simbolismo que eles contêm.
No primeiro, um operador do
mercado financeiro tem um surto de sinceridade e fala abertamente o que todos
já sabem: pouco importa a recessão econômica, o que vale é a oportunidade para
ganhar dinheiro. Dentre outras pérolas, Alessio
Rastani, o operador, afirma, em entrevista para BBC: “Não são os governos
que comandam o mundo; a Goldman Sachs é quem comanda!”.
A legenda em português tem
alguns erros, mas dá para entender perfeitamente a essência da sua fala, que
expressa o que pensam boa parte dos agentes do mercado financeiro:
Entrevista Alessio Rastani, Londres, Setembro de 2011:
O segundo vídeo foi feito
também com uma pessoa que vive em Londres, um cidadão chamado Darcus Howe, que fala sobre os
distúrbios que ocorreram na cidade em Agosto desse ano. Ao ser questionado se
estaria chocado com os acontecimentos, ele disse que não, qualificando-os como
uma “insurreição popular”. Atentem não só para as coisas que ele diz mas também ao
desrespeito da entrevistadora da BBC:
Entrevista Darcus Howe, Londres, Agosto de 2011:
https://www.youtube.com/watch?v=feGfB72z2ag&feature=related
https://www.youtube.com/watch?v=feGfB72z2ag&feature=related
Os vídeos falam por si
mesmo, e não vou ficar me estendendo. A conexão entre eles é que quando se fala
em crise econômica, ajustes recessivos, cortes de gastos e derivados, tem-se
como resultado o aumento do desemprego, da violência urbana, da desestruturação
social. E, infelizmente, boa parte dos governos tornou-se refém dos interesses
financeiros, dando respostas erradas e caindo em total descrédito junto à
população.
Outros exemplos poderiam ser
dados, das manifestações estudantis no Chile ao ato “ocupando Wall Street” em
Nova York, mas fiquemos em Barcelona, na Praça Catalunha, onde Eduardo Galeano nos dá um alento nesse
mundo marcado pela crise econômica, fragilização social e desilusão política:
Já havia colocado esse “depoimento livre” aqui no blog, mas vale a pena repeti-lo. Eu sempre me emociono ao ver este vídeo, e guardo a mensagem do mestre: “temos que raciocinar e sentir!”.
Depois de amanhã, na
quinta-feira, vou fazer a aplicação de botox na bexiga/uretra. Epero voltar ao
blog na próxima semana....até breve!
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