sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Velhos Carnavais e novos Ciclos de Vida

Sexta-feira de Carnaval. Nos velhos tempos, já estaria sentindo aquele “comichão” por dentro. Especialmente uns 20 anos atrás. Quando eu tinha 15, em 1991, pela primeira vez meus pais deixaram a casa e viajaram para Mogi Mirim, permitindo que eu e amigos passássemos o Carnaval aqui em Campinas.  Sensação de liberdade plena, de que tudo era possível, de que a festa duraria para sempre.

Logo no sábado de manhã, iam chegando: Negão, Rolha, Nano, Mauro, Jabá, Donho, Bruno, Formiga e tantos outros. Eles e as respectivas caixas de Skol, além de, eventualmente, uma ou outra garrafa de vodca ou pinga mesmo. Quatro dias pela frente. Durante os dias, churrasco, nas noites, bailes de Carnaval, com destaque para o Círculo Militar. Íamos de camelo (andando), e na volta, não sei como. A parada obrigatória era na padaria para o café da manhã. Depois, horas de sono, churrasco, baile e tudo de novo.

Vez ou outra, arriscávamos um baile em outro lugar, como a Fonte São Paulo ou uma boate qualquer. Nessas ocasiões, malabarismos para caber oito no Fiat uno do Jabá. O carnaval na casa dos meus pais aconteceu 3 anos seguidos, dos 15 aos 17 anos. Algumas coisas, é claro, ficam só entre os que participaram. Evidente que o objetivo maior, ainda mais naquela idade, só poderia ser “ficar” com o maior número de meninas possível. Mas tirando um ou outro galã, nosso desempenho não era muito bom não. Não importava, a diversão estava garantinda e não víamos a hora do Carnaval seguinte chegar.

O tempo passou e tanta coisa aconteceu. Hoje o Carnaval, assim como os outros feriados, é uma oportunidade de descanso, de ficar com a família (é claro que as caixas de Skol continuam sendo permitidas). E não escrevo este texto para reclamar ou me aprisionar num sentimento nostálgico. Ao contrário, é bom ter lembranças e histórias para contar, mas é melhor ainda ter ido em frente, fechando e abrindo novos ciclos de vida.

Eu queria chegar aí para desejar bom Carnaval a todos e, ao mesmo tempo, compartilhar o texto abaixo, indicado pelo meu pai, do Fernando Pessoa, que se chama: “Encerrando Ciclos”:

Sempre é preciso saber quando uma etapa chega ao final...
Se insistirmos em permanecer nela mais do que o tempo necessário, perdemos a alegria e o sentido das outras etapas que precisamos viver.
Encerrando ciclos, fechando portas, terminando capítulos. Não importa o nome que damos, o que importa é deixar no passado os momentos da vida que já se acabaram.
Foi despedida do trabalho? Terminou uma relação? Deixou a casa dos pais? Partiu para viver em outro país? A amizade tão longamente cultivada desapareceu sem explicações? 
Você pode passar muito tempo se perguntando por que isso aconteceu....
Pode dizer para si mesmo que não dará mais um passo enquanto não entender as razões que levaram certas coisas, que eram tão importantes e sólidas em sua vida, serem subitamente transformadas em pó. Mas tal atitude será um desgaste imenso para todos: seus pais, seus amigos, seus filhos, seus irmãos, todos estarão encerrando capítulos, virando a folha, seguindo adiante, e todos sofrerão ao ver que você está parado. 
Ninguém pode estar ao mesmo tempo no presente e no passado, nem mesmo quando tentamos entender as coisas que acontecem conosco. 
O que passou não voltará: não podemos ser eternamente meninos, adolescentes tardios, filhos que se sentem culpados ou rancorosos com os pais, amantes que revivem noite e dia uma ligação com quem já foi embora e não tem a menor intenção de voltar. 
As coisas passam, e o melhor que fazemos é deixar que elas realmente possam ir embora...
Por isso é tão importante (por mais doloroso que seja!) destruir recordações, mudar de casa, dar muitas coisas para orfanatos, vender ou doar os livros que tem. 
Tudo neste mundo visível é uma manifestação do mundo invisível, do que está acontecendo em nosso coração... e o desfazer-se de certas lembranças significa também abrir espaço para que outras tomem o seu lugar.
Deixar ir embora. Soltar. Desprender-se. 
Ninguém está jogando nesta vida com cartas marcadas, portanto às vezes ganhamos, e às vezes perdemos.
Não espere que devolvam algo, não espere que reconheçam seu esforço, que descubram seu gênio, que entendam seu amor. Pare de ligar sua televisão emocional e assistir sempre ao mesmo programa, que mostra como você sofreu com determinada perda: isso o estará apenas envenenando, e nada mais. 
Não há nada mais perigoso que rompimentos amorosos que não são aceitos, promessas de emprego que não têm data marcada para começar, decisões que sempre são adiadas em nome do "momento ideal". 
Antes de começar um capítulo novo, é preciso terminar o antigo: diga a si mesmo que o que passou, jamais voltará!
Lembre-se de que houve uma época em que podia viver sem aquilo, sem aquela pessoa - nada é insubstituível, um hábito não é uma necessidade.
Pode parecer óbvio, pode mesmo ser difícil, mas é muito importante.
Encerrando ciclos. Não por causa do orgulho, por incapacidade, ou por soberba, mas porque simplesmente aquilo já não se encaixa mais na sua vida.
Feche a porta, mude o disco, limpe a casa, sacuda a poeira. Deixe de ser quem era, e se transforme em quem é. Torna-te uma pessoa melhor e assegura-te de que sabes bem quem és tu próprio, antes de conheceres alguém e de esperares que ele veja quem tu és..
E lembra-te:
Tudo o que chega, chega sempre por alguma razão”.


Até a quarta-feira de cinzas! Abraços!

9 comentários:

  1. Muito bom! Ainda bem que você foi sensato e só relatou superficialmente o que rolava...

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  2. Que lindo, Vi!! Fiquei emocionada! Teu melhores momentos são esses em que investe em teu talento de cronista... Bjos!

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  3. Pois é Rolha, também não dá para abrir tudo! Aquele e até a volta!

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  4. Legal Fabi, fico feliz! E obrigado pela dica...vou tentar investir mais como "cronista"...Beijos

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  5. Nossa Vini...Recebi o seu link e aqui estou...Adorei, tudo! Parabéns. Beijão.

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  6. Fala Vini!

    A cada carnaval que chega, também penso em todos os bons momentos que vivemos. Que privilégio ter tido (e ainda ter!) tantas alegrias e bons amigos na vida. As vezes tenho uma certa nostalgia daqueles tempos, mas ela não é dolorosa, pois me sinto feliz no ciclo de vida que vivo hoje. Não acho que temos que enterrar essas lembranças. Cultiva'-las nos permite manter intactos os laços de amizade que nos unem. Mas ainda bem que não vivemos so' delas, e continuamos compartilhando a cada encontro mais momentos de alegria.
    Abração,
    Nano

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  7. Legal Érica, que bom que você gostou!

    Só uma dúvida, é a Érica da Comunitária e da Economia?

    Seja como for, beijão!

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  8. Nano, concordo com você!

    Depois, relendo o texto do Fernando Pessoa, também acho que não precisamos ser tão radicais. O segredo é conciliar as boas memórias com novos ciclos de vida!

    Grande abraço meu amigo,
    Vini.

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  9. Em 23 de fevereiro de 2012 08:11, Vinicius Garcia escreveu:
    > Sem dúvida, baita desafio!
    >
    > Abraços e beijos também para vc e família!
    >
    > Em 19 de fevereiro de 2012 13:27, Daniel Höfling
    > escreveu:
    >> Vini,
    >> texto show....é um desafio permanente encerrar ciclos.
    >> Bj pra vc e Regina
    >>
    >> Daniel de Mattos Höfling

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