Recentemente no blog do Luís Nassif, foi reproduzido um pequeno artigo de Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI (quem tiver interesse, posso mandar a postagem do Nassif e o artigo original em inglês). De forma relativamente simples e bastante objetiva, o artigo – que foi elaborado por meio de contribuições de outros economistas – resume uma mudança na forma de pensar a macroeconomia, no interior do próprio mainstream, após a crise de 2008.
Antes defensores dos pilares do chamado Consenso de Washington – desregulação financeira, livre mobilidade de capitais, Estado mínimo, agentes racionais e com pleno acesso às informações, etc. – economistas ligados ao FMI afirmam, na síntese de Blanchard, que “o pêndulo da história passou a balançar mais um pouco em direção ao Estado”, em relação ao mercado. Ou seja, o estrago provocado pela crise de 2008 mostrou aquilo que se obtêm quando o Estado é mínimo, omisso e até mesmo conivente com as livres forças do capitalismo.
Blanchar reconhece também que há um novo mundo em termos da geopolítica e das estruturas de poder entre as Nações, exigindo que a política econômica seja pensada com base nessa nova realidade. Nesse novo contexto, distante do mundo ideal e perfeito, para não dizer lúdico, do neoliberalismo, as políticas macroeconômicas podem provocar enormes distorções e afetar de maneira concreta a vida de milhões de pessoas.
Duas simplificações do paradigma anterior são revistas no texto de Blanchard: a) a idéia de que se deve focar determinada política econômica para um único objetivo (juros para combater exclusivamente a inflação, por exemplo); b) a abrangência da política fiscal apenas como fator multiplicador da economia. O mundo e as decisões econômicas são mais complexas, o que exige diferentes instrumentos de política econômica, sendo que as variações da política fiscal têm efeitos econômicos e sociais que são dinâmicos, não uniformes.
Nessa mesma linha – fugindo-se do mundo perfeito do paradigma neoliberal – são feitas outras considerações sobre o conceito de liquidez e os desafios que se colocam para o futuro. Em síntese, o que importa registrar é que mesmo dentre economistas conservadores ou “de mercado”, começa a ficar claro que se deve pensar a macroeconomia num contexto político, econômico e social mais amplo, ou seja, não adiante utilizar apenas os modelos econométricos e os seus equilíbrios automáticos.
Nesse “novo mundo”, observando os impactos negativos da enorme liquidez mundial e a conseqüente valorização cambial de países com cambio flutuante, como o Brasil, até o presidente do FMI sugeriu a adoção de controle de capitais. Há, portanto, um novo cenário no campo ideológico que pode ajudar na tomada de decisões da Fazenda e, especialmente, do Banco Central no Brasil, libertando-se da visão estreita que prevaleceu durante muitos anos (em que sobressaiam os “cabeças de planilha”, como bem definiu Luís Nassif).
Mensagem do amigo Daniel (Mancuso) desde os tempos da Economia 94....hoje professor na Facamp.
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Sem dúvida Dani! Não está se propondo nenhuma mágica, apenas instrumentos de ação política e econômica que já foram implemetados com sucesso, como você coloca, antes da hegemonia neoliberal pós 1980.
Valeu, abração, Vini.
Em 15 de abril de 2011 10:02, Daniel Höfling escreveu:
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Vini,
muito bom o seu texto. É importante ressaltar que essas possíveis mudanças (controle de capitais, de juros e de câmbio, além de uma maior intervenção do Estado na economia e na sociedade como um todo) não são coisas de outro mundo nem devaneios do "pessoal de esquerda". Já foram implementadas no pós-guerra, notadamente entre 1945 e meados dos 70, e foram responsáveis pelo maior desenvolvimento econômico e social já registrado nos países centrais, com reflexos extremamente positivos entre nós. Em poucas palavras, não é "viagem". É bem real e bem necessário. Demorou.
abraços,
Daniel de Mattos Höfling