sexta-feira, 15 de abril de 2011

“Novo” paradigma – Até o FMI

Recentemente no blog do Luís Nassif, foi reproduzido um pequeno artigo de Olivier Blanchard, economista-chefe do FMI (quem tiver interesse, posso mandar a postagem do Nassif e o artigo original em inglês). De forma relativamente simples e bastante objetiva, o artigo – que foi elaborado por meio de contribuições de outros economistas – resume uma mudança na forma de pensar a macroeconomia, no interior do próprio mainstream, após a crise de 2008.
Antes defensores dos pilares do chamado Consenso de Washington – desregulação financeira, livre mobilidade de capitais, Estado mínimo, agentes racionais e com pleno acesso às informações, etc. – economistas ligados ao FMI afirmam, na síntese de Blanchard, que “o pêndulo da história passou a balançar mais um pouco em direção ao Estado”, em relação ao mercado. Ou seja, o estrago provocado pela crise de 2008 mostrou aquilo que se obtêm quando o Estado é mínimo, omisso e até mesmo conivente com as livres forças do capitalismo.
Blanchar reconhece também que há um novo mundo em termos da geopolítica e das estruturas de poder entre as Nações, exigindo que a política econômica seja pensada com base nessa nova realidade. Nesse novo contexto, distante do mundo ideal e perfeito, para não dizer lúdico, do neoliberalismo, as políticas macroeconômicas podem provocar enormes distorções e afetar de maneira concreta a vida de milhões de pessoas.
Duas simplificações do paradigma anterior são revistas no texto de Blanchard: a) a idéia de que se deve focar determinada política econômica para um único objetivo (juros para combater exclusivamente a inflação, por exemplo); b) a abrangência da política fiscal apenas como fator multiplicador da economia. O mundo e as decisões econômicas são mais complexas, o que exige diferentes instrumentos de política econômica, sendo que as variações da política fiscal têm efeitos econômicos e sociais que são dinâmicos, não uniformes. 
Nessa mesma linha – fugindo-se do mundo perfeito do paradigma neoliberal – são feitas outras considerações sobre o conceito de liquidez e os desafios que se colocam para o futuro. Em síntese, o que importa registrar é que mesmo dentre economistas conservadores ou “de mercado”, começa a ficar claro que se deve pensar a macroeconomia num contexto político, econômico e social mais amplo, ou seja, não adiante utilizar apenas os modelos econométricos e os seus equilíbrios automáticos.
Nesse “novo mundo”, observando os impactos negativos da enorme liquidez mundial e a conseqüente valorização cambial de países com cambio flutuante, como o Brasil, até o presidente do FMI sugeriu a adoção de controle de capitais. Há, portanto, um novo cenário no campo ideológico que pode ajudar na tomada de decisões da Fazenda e, especialmente, do Banco Central no Brasil, libertando-se da visão estreita que prevaleceu durante muitos anos (em que sobressaiam os “cabeças de planilha”, como bem definiu Luís Nassif).

Um comentário:

  1. Mensagem do amigo Daniel (Mancuso) desde os tempos da Economia 94....hoje professor na Facamp.

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    Sem dúvida Dani! Não está se propondo nenhuma mágica, apenas instrumentos de ação política e econômica que já foram implemetados com sucesso, como você coloca, antes da hegemonia neoliberal pós 1980.

    Valeu, abração, Vini.


    Em 15 de abril de 2011 10:02, Daniel Höfling escreveu:
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    Vini,
    muito bom o seu texto. É importante ressaltar que essas possíveis mudanças (controle de capitais, de juros e de câmbio, além de uma maior intervenção do Estado na economia e na sociedade como um todo) não são coisas de outro mundo nem devaneios do "pessoal de esquerda". Já foram implementadas no pós-guerra, notadamente entre 1945 e meados dos 70, e foram responsáveis pelo maior desenvolvimento econômico e social já registrado nos países centrais, com reflexos extremamente positivos entre nós. Em poucas palavras, não é "viagem". É bem real e bem necessário. Demorou.
    abraços,

    Daniel de Mattos Höfling

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