Motivos não faltam para torcer e se emocionar com Barcelona, tanto a cidade como o time que a representa. Representa, na verdade, a Catalúnia, uma região que se enxerga de forma independente e autônoma em relação ao reino Espanhol. Durante os anos da ditadura militar do general Franco, Barcelona foi o berço da resistência ao regime autoritário e fascista. Politicamente, gostar de Barcelona para aqueles que se consideram de esquerda, como eu, é inevitável.
Tenho também razões afetivas para gostar dessa cidade e do seu time. Minha madrinha, tia Iza, irmã do meu pai, morou e trabalhou em Barcelona no início da década de 90. Durante o tempo em que ela esteve lá, junto com meu primo Thomáz e a querida vó Anamélia, eu e o meu irmão, Bruno, trocávamos cartas com ela. Tínhamos entre 13 e 15 anos, e ficávamos admirados com os relatos sobre a beleza da cidade Catalã, sua riqueza cultural e a “personalidade” do seu povo. Como adorávamos futebol, torcer para o time foi automático.
Ainda nos anos 90, era um prazer acompanhar o sucesso de jogadores brasileiros no Barça: Romário, Ronaldo Fenômeno e Rivaldo, dentre outros. Particularmente a temporada de 96-97 do Ronaldo, em que ele “só não fez chover”. A relação “mágica” de jogadores brasileiros com o Barcelona continuou no século atual, sendo Ronaldinho Gaúcho seu maior expoente. O “dentuço” jogou demais entre 2004 e 2006, dando a impressão de que o Brasil ganharia tranquilamente a Copa na Alemanha, mas o seu brilho terminou antes do mundial.
Um argentino substituiria o brasileiro no comando do esquadrão catalão: Lionel Messi. Sem dúvida, o melhor jogador de futebol do mundo neste momento. Messi entrou num time com jogadores extremamente técnicos e habilidosos, como Xavi e Iniesta. Formou-se um meio-campo que domina o jogo como há muito não se via (quase 70% de posse de bola, em média). O Barcelona, assim, quase sempre tem a bola em seu domínio, joga com rapidez, técnica e paciência em busca da melhor opção. A vitória contra o Manchester United na Liga dos Campeões, terceira conquista em cinco anos, é o símbolo perfeito desta “escola de futebol”.
Por fim, alguns comentários que compartilhei com meu pai sobre esta conquista do Barcelona (assistimos ao jogo juntos). Primeiro, a incrível constatação de que 8 dos 11 titulares foram formados nas categorias de base do time (em oposição ao modelo do Real Madrid de "comprar craques"). Outra coisa interessante e simbólica: o capitão Puyol, que entrou no fim do jogo para levantar a taça, cedeu a honraria ao colega Abdal, que se tratou um tumor no início do ano. Lindo gesto, de um time onde as vaidades individuais parecem estar em segundo plano.
A última constatação: até 1991, vinte anos atrás, o Barça era um time de prestígio e conquistas locais ou regionais. A primeira taça na Liga dos Campeões da Europa veio em 1992, e depois as três recentemente, na década atual. Ou seja, há esperança para o Corinthians! Mas até lá, viva o Barça!