quinta-feira, 30 de junho de 2011

Times artificiais

Tenho implicância com times de futebol sem tradição, com torcidas praticamente inexistentes e mantidos muitas vezes por recursos de Prefeituras e/ou “empresários”. Torço contra mesmo, pois o êxito de times assim pode estimular novas artificialidades, em detrimento de equipes com história, raízes nas suas cidades e estimuladas pela paixão fiel dos seus torcedores. Infelizmente, porém, tem crescido o número de equipes artificiais, que serão “homenageadas” aqui com o meu texto.

Posso estar enganado, mas isso parece ter começado com o São Caetano, no ABC paulista. Na Copa João Havelange, equivalente ao Campeonato Brasileiro de 2000, este time apareceu e foi longe na competição, ganhando de equipes como o Fluminense e o Palmeiras. Fiquei curioso, e quando fui pesquisar descobri que o chamado “azulão” era mantido basicamente pela Prefeitura local. A torcida, cujos principais expoentes eram  simpáticos velhinhos com a alcunha de “bengala azul”, não chegava a média de 500 testemunhas por jogo. Torci o nariz.

A antipatia aumentou porque o São Caetano acabou virando a “asa negra” do Corinthians, no lugar do Juventus que ocupava esse papel nas décadas anteriores (mas este um time tradicional da Mooca paulistana). O “azulão” deve ter retrospecto equilibrado ou até positivo contra Corinthians...que raiva! E quando eles chegaram na final da Libertadores em 2002?! Pensei assim: putz, fogos e desmaios na “bengala azul” e a Gaviões da Fiel “chupando o dedo”? Vibrei demais com a vitória do Olímpia, do Paraguai, em pleno Pacaembu.

Devem ter aparecidos outros ao longo da década e hoje temos exemplos diversos de times artificiais, como o recém criado Americana (que antes era o Guaratinguetá), com dinheiro da Prefeitura e média de público ridícula. Aliás, se for para subir algum paulista para a série A, que seja a Portuguesa, a Ponte ou o Guarani, não o Americana. Agora, quem merece uma atenção especial na discussão sobre times de mentira é o Grêmio Barueri, ou Prudente, ou Barueri de novo?

Pois é, o chamado “Grêmio Itinerante”, na ótima definição de Mauro Cesar Pereira da ESPN Brasil, muda de cidade de acordo com as conveniências financeiras. Tudo haver com paixão clubística e a magia do jogo, não? E o pior é que o time de Barueri teve uma ascensão meteórica da quinta para primeira divisão do Campeonato Paulista, turbinado com o apoio da Prefeitura. Torcida? Quem mora em Barueri torce por um dos grandes da capital e, em menor medida, para o Santos.

Depois de desentendimentos com a política local, não é que o Grêmio Barueri, ano passado, mudou-se para Presidente Prudente? Foi disputar o Campeonato Brasileiro da primeira divisão, e virou Grêmio Prudente. O pessoal da cidade até se animou um pouco, pois Prudente teria um time na elite do Nacional. Mas a aventura foi rápida, pois o Grêmio Prudente caiu para segunda divisão e sua diretoria achou melhor....voltar para Barueri. Curiosidade: o time tradicional da cidade é o Corinthians de Prudente....esses times artificiais me perseguem!

Quero deixar claro que não se trata de preconceito com times menores, já que a admiro a história de equipes que estão numa draga danada, como a Ferroviária de Araraquara, o XV de Jaú ou o América do Rio. Mas é que clubes grandes, com tradição e torcida, fazem bem ao espetáculo futebol. São muitas vezes mal organizados e mal administrados, mas certamente não artificiais.

sábado, 25 de junho de 2011

Presunção da Roubalheira

Na semana passada, o Congresso aprovou o Regime Diferenciado de Contratações (RDC) a ser utilizado na Copa de 2014 e nas Olimpíadas de 2016. Este texto não pretende discutir especificamente o RDC e tampouco as questões positivas e negativas que envolvem a realização destes eventos no país (http://vggarcia30.blogspot.com/2011/05/copa-do-mundo-e-olimpiadas-no-brasil.html). Quero apenas utilizar este caso para ilustrar o que pode ser chamado de “princípio de presunção da roubalheira” que vigora no país. Trata-se de uma desconfiança generalizada em relação aos agentes e órgãos públicos.

Até certo ponto, é compreensível que este princípio exista. Há, de fato, um histórico nada positivo de desvios de dinheiro público e exemplos diversos da falta de ética e decoro dos políticos e homens públicos no Brasil (embora não só deles). Ocorre que, em minha opinião, esta presunção de que inevitavelmente vai haver roubalheira mais atrapalha do que ajuda o avanço de uma discussão séria sobre mecanismos de fiscalização, processos licitatórios e, em última instância, valores republicanos que separam os interesses públicos dos privados.

Tomando como exemplo o RDC, há argumentos favoráveis e contrários a sua utilização. Porém, grande parte das pessoas, inclusive (para não dizer, especialmente) jornalistas, deixam-se levar por uma análise superficial, de que o governo está simplesmente permitindo roubalheira e corrupção. O RDC é defendido por setores do governo como uma estratégia que aponta na direção contrária, pois dificultaria o acordo prévio entre as grandes construtoras (que, aliás, reagiram pública e negativamente ao projeto, no que foram apoiadas pelo presidente do Senado, José Sarney). Por outro lado, existem críticas pertinentes quanto à flexibilização exagerada que o RDC permite.

Seja como for, só não acho que é saudável começar a discussão dando como fato que o objetivo final é autorizar a corrupção e pronto. O país dispõe de mecanismos, instituições e órgãos de controle, internos e externos, que vêm sendo aperfeiçoados ao longo do tempo. Há a Controladoria-Geral da União, o Procurador Geral da República (que já criticou o RDC), o Tribunal de Contas da União e o próprio Congresso Nacional. Vivemos num país onde a imprensa tem plena liberdade de opinião e as pessoas podem se manifestar, se organizar e criticar severamente o governo, com todo o direito.

Em contra-ponto, fico espantado como alguns adoram exaltar, por exemplo, como na China as obras de infra-estrutura são feitas rápida e eficientemente. O país asiático até pode nos ensinar em termos de política econômica (maneja bem câmbio e juros), mas não é exemplo de transparência pública ou liberdade dos direitos civis e políticos. No outro extremo, o paradigma dos EUA é adorado por aqueles que vivem criticando o excesso de impostos e os desperdícios de dinheiro público no Brasil. É inegável que os EUA avançaram enormemente e alcançaram um elevado patamar de riqueza material, mas são modelos para o atendimento na área de Saúde ou Previdência Social?

A nossa realidade está longe de ser a ideal, mas é a de um país em que, 30 anos atrás, o Presidente da República era escolhido pela vontade pessoal de um general do Exército (foi assim com Médici para Geisel e deste para Figueiredo). A Constituição Brasileira tem pouco mais de 20 anos, e sofreu duros golpes no seu processo de regulamentação durante a hegemonia do neoliberalismo na década de 90. Nas últimas décadas, as instituições têm avançado e é preciso parar com a mania de que tudo está sempre errado no Brasil. Em síntese, temos que ver as coisas em perspectiva história e fugir da simplicidade das fáceis generalizações.

Se o ufanismo ingênuo é prejudicial, a presunção da roubalheira também é. Acompanha-se, discuta-se e investigue-se tudo aquilo que envolve a política e o dinheiro público no Brasil. Mas sem julgamentos e sentenças precipitadas, vale para o direito, vale para a política.

segunda-feira, 20 de junho de 2011

Crise na Prefeitura de Campinas

Desde o dia 20 de Maio, exatamente há um mês atrás, quando uma operação do Ministério Público estadual e do grupo de investigação da Policia Civil prendeu mais de uma dezena de empresários, gestores públicos e secretários municipais, a Prefeitura de Campinas encontra-se numa enorme crise. O clima político na cidade, sobretudo medido pela Câmara de Vereadores, anda quente. Acompanhando o caso pelos jornais e televisão (inclusive as sessões da TV Câmara), vou me arriscar a dar algumas opiniões e propor reflexões sobre o caso.


Uma primeira observação geral é que, ao contrário do que dizem alguns, não há total “neutralidade” em qualquer instância de poder, mesmo no caso do Ministério Público e do Poder Judiciário. Imaginar que estes órgãos atuam sempre com plena independência e apenas movidos por embasamentos técnicos, me parece ingenuidade. As pressões políticas permeiam, em menor ou maior medida, as decisões nas três esferas de poder, no Ministério Público, nos órgãos de investigação e na própria imprensa, chamada de quarto poder. Isso pode explicar eventuais abusos de poder que tenham ocorrido.


Porém, mesmo tendo em conta esta observação, as denúncias feitas até agora pelo Ministério Público e repercutidas pela imprensa contra a administração do Dr. Hélio (PDT) demonstram ter grande consistência. Baseadas em escutas telefônicas, documentos públicos, contratos oficiais e um testemunho-chave obtido pelo mecanismo da delação premiada, as provas apontam no sentido de que havia um esquema de corrupção na Prefeitura. E os responsáveis seriam o núcleo duro da administração municipal, liderados pela primeira-dama (chefe de gabinete do prefeito).


Aqui, apenas um parêntese, ou uma dúvida que pode derivar da minha própria ingenuidade ou desconhecimento: porque as provas não envolvem diretamente o nome do prefeito? Todos à sua volta foram denunciados e tiveram a prisão preventiva decretada, ele não. Não havia provas suficientes para isso ou esta foi uma estratégia da acusação? Ou ainda, em existindo de fato o esquema, as coisas eram feitas sem que ele se envolvesse oficialmente?


Talvez, e sendo provavelmente demasiadamente otimista, a Comissão Processante instaurada na Câmara de Vereadores, que em tese deverá ouvir o prefeito no dia 29 de Junho, possa ajudar a esclarecer esses aspectos. Seja como for, um trabalho ainda pendente e de suma importância, fundamental para comprovar fraudes e desvios, é “seguir o dinheiro”, como se chamou esta forma de investigação a partir do escândalo de Watergate nos EUA, no início dos anos 70. Atualmente, são feitas estimativas de que, especialmente os contratos “viciados” da Sanasa e as "taxas" para liberação de loteamentos urbanos, envolvem desvios da ordem de 600 milhões de reais. Os órgãos de controle e fiscalização podem e devem “seguir o dinheiro”, o que não deixaria dúvidas sobre as responsabilidades dos envolvidos.

Procurando observar a crise na Prefeitura em perspectiva, entendo que a administração atual já vinha “perdendo ritmo” desde o início do segundo mandato. Eleito em 2004, e parcialmente “ajudado” pela comparação com duas administrações anteriores mal-avaliadas (Chico Amaral e Izalene Tiene), Dr. Hélio fez, de fato, um primeiro mandato muito bom, reconhecido pela população com sua reeleição no primeiro turno de 2008 com quase 70% dos votos. É verdade que as denúncias atuais já se referem ao primeiro mandato, mas as obras realizadas na cidade, o dinamismo que foi dado pela administração e outras ações da Prefeitura resultaram numa avaliação positiva.

Parece-me que a partir de 2008, talvez por uma certa acomodação, a administração não conseguiu avançar nas suas realizações e começou a sofrer um processo de desgaste que culminou com a grande crise atual. Crise que, interessante registrar, se baseia em denúncias apenas contra os servidores comissionados da Prefeitura, não envolvendo servidores de carreira, muitos dos quais estão numa situação delicada e constrangedora.


Por fim, algumas observações sobre as perspectivas futuras, com a ressalva de que, como dizia Tancredo Neves (ou Ulisses Guimarães), “política é como nuvem”, muda rápido e sem que a gente perceba.   


No curto prazo, em relação à Comissão Processante que pode levar ao seu impeachment, o Prefeito conta com os votos do PDT e PT (dez vereadores), além de aliados que têm sido fiéis, como Tiago Ferrari (PMDB), Sérgio Benassi (PC do B) e Tadeu Marcos (PTB). Esses treze votos me parecem consolidados, assim como, na posição contrária, os vereadores do PSDB, DEM, PV e PSB, somados a oposicionistas ferrenhos como Petterson Prado (PPS), Rafa Zimbaldi (PP) e Politizador dos Santos (PMN), garantem catorze votos quase certos para o afastamento definitivo do prefeito. 

O jogo ficaria para ser decidido entre seis vereadores “independentes”: Cidão Santos (PPS) e Miguel Arcanjo (PSC) – que votaram contra o afastamento temporário; Pedro Serafim (PDT) e Cirilo (PPS) – votaram a favor; e Sebastião dos Santos (PMDB) e Jorge Scheneider (PTB), que se abstiveram na sessão de votação do requerimento que pedia o afastamento temporário do prefeito, em 15 de Junho. Na ocasião, foram quinze votos contrários, dezesseis favoráveis e duas abstenções. Para o impeachment do prefeito, serão necessários 2/3, 22 votos dos 33 vereadores da Câmara. Assim sendo, para alcançar os 22, além dos quatorze já praticamente definidos, esses seis “avulsos” deveriam votar pela cassação e seriam necessárias duas mudanças de posição na base. O clima vai continuar quente.


No médio prazo, pensando nas eleições municipais de 2012, é claro que vai depender da cassação ou não prefeito, mas por todo o desgaste já sofrido, acho que PDT e PT tem pouquíssimas chances de vitória na eleição do ano que vem. Despontam como favoritos o deputado federal Jonas Donizete (PSB) e o candidato do PSDB. E aí a briga no ninho tucano vai ser grande, pois além dos deputados Célia Leão e Carlos Sampaio, há o vereador Artur Orsi (que ganhou os holofotes na crise atual) e o secretário estadual Jurandir Fernandes, que seria o preferido do governador Geraldo Alckmin. Creio que DEM e PMDB devem embarcar como vice naquele que tiver mais chances de vitória.


No longo prazo, “todos estaremos mortos”, como dizia Keynes. Chega, o texto já ficou enorme. Vamos acompanhar os próximos capítulos.

sexta-feira, 17 de junho de 2011

Vamos em frente

Não consegui escrever no blog esta semana por duas razões, uma ruim outra boa. A primeira diz respeito às dores no corpo e ao mal-estar que sinto nesses dias de frio. Estou também tentando ficar sem as fortes medicações para as dores neuropáticas. Vamos ver se consigo. A razão boa é que pude ocupar meu tempo (e a cabeça) com uma atividade de pesquisa. Me enfurnei num site com dados, estatísticas e indicadores sobre economia, comércio mundial e desenvolvimento. Adorei.

Então, é isso aí. Estou esboçando escrever um texto sobre a crise na Prefeitura de Campinas, mas ainda não deu. O assunto, por sinal, me entristece e desanima bastante, especialmente numa sexta-feira à noite. Mas vamos em frente....bom fim de semana a todos!    

segunda-feira, 13 de junho de 2011

Eduardo Galeano

Compartilho "entrevista" com Eduardo Galeano, enviado por meu amigo Danilo. Não vou comentar nada, apenas assistam.
http://www.youtube.com/watch?v=mdY64TdriJk

sábado, 11 de junho de 2011

Repensando o controle social

Hoje se encerrou em Campinas a VII Conferência Municipal sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência. Este encontro ocorre a cada dois anos, tendo como principais objetivos avaliar as políticas públicas municipais que se relacionam com as pessoas com deficiência e eleger os representantes deste segmento populacional no Conselho Municipal dos Direitos das Pessoas com Deficiência (CMPD-Campinas). Infelizmente, por problemas de saúde, não pude participar da Conferência, mas aproveito a ocasião para fazer uma reflexão acerca destes instrumentos de controle social.
Os Conselhos com representantes da sociedade civil e do poder público foram consolidados como fóruns de democracia participativa na Constituição “cidadã” de 1988. Já haviam experiências anteriores, mas a partir dali passaram a ser constituídos espaços institucionais para tratar de temas como saúde ou educação, e também de grupos populacionais historicamente discriminados e/ou socialmente vulneráveis. Tardiamente, pelo menos na maioria dos municípios, as pessoas com deficiência passaram a se organizar politicamente e exigir a criação destes fóruns, que depois também passaram a existir nas esferas estaduais e a nível federal.
No caso de Campinas, as discussões para criação do CMPD se deram no final da década de 90. Originalmente, chamou-se o Conselho de CMADENE, pois ele se refira aqueles com “necessidades especiais” (eufemismo abandonado no século XXI). Embora não tenha participado do primeiro grupo de conselheiros, tive essa chance já em 2002, representando o segmento das pessoas com deficiências nos quatro anos seguintes (tendo sido presidente do Conselho entre 2004 e 2006). Esta experiência me manteve durante muito no tempo do lado daqueles que defendem a importância e eficácia deste instrumento de controle social, mas hoje penso um pouco diferente.
Analisando em perspectiva, pelo menos no caso de Campinas, mas creio que não somente aqui, a valorização dos Conselhos como instâncias de participação e monitoramento das políticas públicas depende, demasiadamente, da posição do poder executivo local frente a estas instâncias. Em outras palavras, se não há uma firme disposição do poder público no sentido de levar em conta as deliberações dos Conselhos, estes se enfraquecem e atuam quase que de modo figurativo.
Em tese, não deveria ser assim e isso também tem haver com o poder que as legislações conferem aos Conselhos no momento de sua criação. Aqueles que se caracterizam como “deliberativos” têm mais força do que os definidos apenas como “consultivos”. Mas mesmo no primeiro caso, a palavra final resulta quase sempre da vontade do poder executivo, que pode “esvaziar” os Conselhos de diferentes formas, seja indicando representantes frágeis ou desinteressados, seja simplesmente assumindo para si a decisão final quanto à execução da política pública.
Não quero com isso rejeitar os Conselhos como fórum de controle social, mas chamar a atenção para o fato de que o outro lado desta relação, com o poder concentrado no executivo local, é o movimento social fragilizado. Restringindo a discussão para o universo das pessoas com deficiência, e pautado pela experiência de Campinas, o fortalecimento do poder público estimulou e correspondeu ao enfraquecimento simultâneo do movimento sócio-político das pessoas com deficiência. Como participante deste processo, assumo erros e me sinto co-responsável. Creio que uma mudança efetiva na nossa capacidade de controle social passaria pela reorganização deste movimento em Campinas.
Em resumo, penso que antes de lutar pela valorização dos Conselhos, é preciso refletir sobre as causas que levaram ao enfraquecimento da nossa mobilização. Na verdade, ao iniciar este texto, queria apenas utilizar a ocasião da Conferência para falar, de forma geral, sobre as mudanças nas formas de participação e controle social. Acabou virando uma reflexão interna e particularizada...paciência. Agora estou curioso: como terá sido a VII Conferência aqui em Campinas?

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Roland Garros

Com a vitória do espanhol Rafael Nadal, ontem terminou o torneio, na minha opinião, mais interessante, charmoso e competitivo da temporada do tênis: Roland Garros, na França. Em função dos meus problemas de saúde, atualmente está difícil e me preocupa até uma viagem aqui para Sumaré, vizinha de Campinas. Mas dentre os meus sonhos e vontades – que precisamos ter para nos manter vivos – está um dia passar duas semanas na primavera francesa e assistir esta competição nas quadras de saibro em Paris (a Rê já falou que faz um esforço e me acompanha).
Em 1997, pela primeira vez, pude acompanhar com mais atenção o torneio. Eu tinha apenas dois anos da lesão medular, ficava bastante em casa e tinha tempo para assistir às longas partidas pela ESPN (um pouco como agora). Naquele ano, um brasileiro que não estava entre os 50 primeiros do ranking, Guga, começou a ganhar os jogos, derrotando favoritos um a um. Ele acabaria por vencer o torneio, selando também minha paixão por este esporte, particularmente por Roland Garros.
Assim como Guga, que nasceu em 1976, eu tinha 21 anos e a partir dali passei a seguir a temporada de tênis. Parênteses: Ronaldo Fenômeno também nasceu em 1976; nós três completamos 35 anos em 2011; meus chapas. De volta ao tênis, algumas coisas me fizeram gostar desse esporte, para o qual eu não dava muita bola. A organização através de um ranking e competições semanais em que, sem nenhuma dúvida, vence quem merece, quem é o melhor (ao contrário do futebol). O esforço e a combinação entre habilidade técnica e controle emocional que são exigidos dos tenistas, pois é um esporte de força e sintonia fina ao mesmo tempo.
Tais características são postas a prova de maneira especial num torneio como Roland Garros. Durante duas semanas, os 128 melhores tenistas do mundo (só na chave principal) se enfrentam em partidas melhor de cinco sets, que podem durar 4, 5 horas. Para chegar à final, é preciso vencer 6 partidas, disputando-se o sétimo e derradeiro jogo com um cara que, assim como você, venceu todos os jogos até ali e mandou os outros tenistas para casa. Além da recompensa financeira, nada desprezível, ao vencedor cabe a honra de colocar seu nome na história do tênis.
Rafael Nadal, aos 25 anos, fez isso pela sexta vez ontem, alçando em número de títulos o lendário sueco Bjorn Borg (que também ganhou Roland Garros pela sexta vez com 25 anos, mas se aposentou depois). Assim, Nadal tem tudo para ser o maior vencedor do torneio, mesmo com a torcida contra do público francês, que prefere o estilo de jogo refinado e o comportamento mais clássico do franco-suiço Roger Federer (que ganhou uma vez, em 2009). Guga Kuerten também já marcou seu nome na terra batida de Paris, pois venceria outras duas vezes depois de 1997, em 2000 e 2001, sendo tricampeão em Roland Garros.
Enfim, fica aqui registrada minha reverência a esse torneio. Temos que acreditar nos nossos sonhos. É improvável que outro brasileiro volte a ganhar em Paris; como nem de longe me vejo hoje embarcando num avião para Europa. Mas, quem sabe....

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Cinco meses do governo Dilma

Ontem a presidente Dilma Roussef completou os primeiros cinco meses do seu mandato. Depois de um início tranqüilo, com boa avaliação em pesquisas de popularidade e iniciativas que agradaram até aqueles que não votaram nela em 2010, o governo enfrenta uma fase de turbulências nas últimas três semanas. Comentar quando a coisa vai bem é mais fácil, mas, por outro lado, os momentos de crise são propícios para avaliar perspectivas, desafios e mudanças de rumo. Assim, seguem algumas considerações sobre temas que tem ocupado o noticiário esses dias.
Primeiramente, uma palavra sobre a “polêmica” do livro didático editado pelo MEC, com todo cuidado para não errar na concordância. Este é um (mau) exemplo de como parte (significativa) da nossa imprensa prefere criar crises para atingir o governo do que discutir questões seriamente. Depois da “denúncia” de que o livro “ensina errado”, foram produzidos textos, cartas e manifestos de estudiosos do tema, que majoritariamente apontaram para a visão estreita que norteou as críticas ao livro didático.
Além de pinçar parte de uma página da publicação, os "guardiões da nossa língua" não levaram em consideração que a autora não estava incentivando ao erro, mas sim valorizando variações lingüísticas coloquiais e de raízes populares. Estas não podem ser, sumariamente, taxadas como erro, pois elas devem primeiro brotar, existir, para depois se aproximar da norma culta.
Sobre o tema, dentre outros textos, sugiro a leitura do seguinte: www.advivo.com.br/blog/luisnassif/o-manifesto-das-professoras-de-portugues.
A votação de um novo Código Florestal no Congresso e um vídeo contra a homofobia em produção pelo MEC também deixaram o clima quente. Seria repetitivo ficar reproduzindo aqui argumentos favoráveis ou contrários, seja no embate entre ruralistas versus ambientalistas ou entre os representantes do movimento GLBTS versus os defensores da "tradição, família e bons costumes católicos".
Tais categorizações, embora úteis para clarear algumas análises e identificar interesses ocultos, podem expressar uma visão maniqueísta das coisas, prejudicando a discussão. De qualquer forma, para aqueles que acompanham este blog não é difícil imaginar que compartilho mais da visão dos críticos ao novo Código Florestal e, especialmente, da posição daqueles que militam contra a discriminação sexual.
Porém, dito isso, gostaria de ressaltar que o resultado da votação do Código Florestal, queiramos ou não, reflete a posição de parcela da população que esta representada no Congresso. Na mesma linha, podemos ser frontalmente contrários ao que defendem a bancada religiosa, mas esta forma de pensar encontra respaldo na sociedade brasileira. Ou seja, sem abrir mão das nossas convicções progressistas, é preciso realizar o debate político e, eventualmente, fazer concessões ao adversário.
Creio que o governo fez isso na votação do Código, e tentará ainda impor seu entendimento no Senado quanto à aplicação das multas anteriores a 2008 e a prerrogativa da União para cuidar da matéria. Quanto ao kit contra homofobia, não tive a oportunidade de ver seu conteúdo, mas devo dizer que concordo com a justificativa usada pela presidente para suspender sua veiculação: “O Estado não pode defender opções sexuais”. Não mesmo.
Por fim, o caso Palocci. Talvez quem tenha lido até aqui ache que estou sendo benevolente demais com o governo, pode até ser. Mas, nas denúncias que envolvem a evolução patrimonial do ministro Palocci, na minha opinião, é preciso ser firme. É verdade que grande parte da imprensa continua agindo mais como um partido de oposição, pois quando vazam os dados fiscais dos tucanos é crime, quando atingem petistas, é informação para fazer denúncia. Sei também que é inacreditável ver figuras como ACM Neto questionando os ganhos do Palocci. E por último sei também que, numa visão estritamente legal ou jurídica, provavelmente não há crime cometido por Palocci.
Dito tudo isso, ele precisa sair. O Palocci não era nem para ter entrado no governo depois do episódio da quebra do sigilo bancário do caseiro. Ah, ele foi absolvido no Supremo por 5 x 4 votos. Pois bem, hoje a Caixa Econômica Federal ainda se defende na Justiça por conta disso e usa como principal estratégia de defesa o fato de que o presidente da instituição na época quebrou o sigilo a partir de uma determinação do seu chefe, o Ministro da Fazenda de então, Antonio Palloci.
Além das razões éticas, do ponto de vista do desenvolvimento econômico e social, não por coincidência, o governo Lula melhorou com a saída de Palloci em 2006 e a entrada de Guido Mantega na Fazenda, em sintonia com Luciano Coutinho no BNDES e Dilma na Casa Civil. Ainda hoje o ministro-chefe da Casa Civil é identificado com os interesses do mercado financeiro, com livre trânsito na oposição e setores empresariais conservadores. Foram esses que elegeram Dilma? A saída de Palocci pode representar uma correção de rumo necessária ao governo.
Hoje foi apresentado o programa “Brasil sem Miséria”. Trata-se de um plano de ação elaborado a partir do Ministério de Desenvolvimento Social (MDS), com forte articulação inter-setorial, com outras instâncias de governo e também com a sociedade civil. Em resumo, uma estratégia de mobilização nacional para erradicar a pobreza absoluta em que ainda se encontram 16 milhões de brasileiros. Esse é o maior legado que o atual governo pode deixar para o país.
Vamos continuar discutindo os outros temas, como a insuficiência ou má qualidade dos serviços públicos, a precariedade da infra-estrutura urbana, as formas de exploração do pré-sal, o necessário planejamento ambiental e o direito à diversidade sexual, entre outros, mas temos que partir de um patamar social mínimo em que não existam mais pessoas, especialmente crianças, passando fome, sem moradia, sem futuro.

O governo Dilma deveria canalizar suas energias para isso, até porque a mídia conservadora não vai demorar para criticar o programa, apontar falhas e tudo mais. Melhor defender um plano de erradicação da miséria do que um ministro com enriquecimento a jato!